A falta de enredo poderia trazer facilmente um tédio ao espectador. Contudo, a diretora consegue manter a nossa atenção pela forma como mostra o cotidiano da Palestina, com artifícios intrigantes, como pessoas andando para trás, música tensa e variedade enorme de cenários. O inusitado faz com que aguardemos com interesse a próxima cena. E com isso, ela consegue brilhantemente mostrar pedaços de rotina da cidade palestina, que, como outra qualquer no mundo, tem avenidas, sinal de trânsito, casas, pessoas, árvores e tudo o mais. O que diferencia esta cidade são os escombros, que surgem de vez em quando, entre uma cena e outra, que parecem ter a função de evidenciar que aquele lugar já passou por muita coisa e que mesmo assim, aquelas pessoas estão lá, vivendo suas vidas, fazendo suas coisas, buscando seus sonhos.
Se muitos filmes nos permitem empatizar com culturas diferentes a partir da empatia com seus personagens (afinal, emoções são as mesmas no mundo todos), isso não acontece em Ouruboros. A empatia não ocorre pelo lado pessoal, individual, emocional. Ocorre pela visão global da cidade palestina, que identificamos como muito parecida com cidades que conhecemos. Como o filme não mergulha em nenhum personagem específico (sequer sabemos o nome deles), nos resta criar algum laço com a cidade, com a vida que eles levam, e entender que eles são como qualquer outro povo. Simplesmente.