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    Galeria F
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Galeria F

    Vida clandestina

    por Francisco Russo

    A repressão ocorrida nos anos de ditadura miitar deixou marcas indeléveis, seja na sociedade como um todo ou no âmbito pessoal. Galeria F, documentário dirigido por Emilia Silveira, retrata um destes casos. Mais exatamente de Theodomiro Romeiro dos Santos, que ganhou fama nacional ao fugir de uma penitenciária (e não ser capturado) em 1979. É a partir da recapitulação de sua trajetória que o longa resgata memórias do cárcere e da fuga, ora afetivas ora dolorosas.

    A intenção de abrir um imenso álbum de recordações surge logo na cena inicial do longa-metragem, quando este de fato é exibido. Ao lado de filhos e parentes, Theodomiro mostra fotos antigas, de um passado distante. "Não conhecia este look dele", diz uma garota, entregando um certo anacronismo entre a pouca importância do visual diante do que acontecia na época. Sinal dos tempos, é claro. Não cabe aqui qualquer tipo de crítica ao comentário, apenas a percepção do quanto ele soaria deslocado.

    É ao lado do filho que Theodomiro percorre os locais em que foi encarcerado e por onde passou após fugir. A partir de depoimentos de companheiros de vida e de luta fica nítido o carinho existente entre eles. As risadas e os causos saborosos provocam um certo estranhamento, supondo uma leveza inconsistente ao clima de repressão. Aos poucos percebe-se que o tom bem-humorado nada mais é do que uma proteção emocional diante das dificuldades do período, que surgem de forma explícita mais perto do fim. É quando Theodomiro, sem meias palavras, relata situações envolvendo o embate com o inimigo e consigo mesmo - "as piores", segundo o próprio.

    Em ritmo ameno, Emília Silveira percorre um pouco da história brasileira. Se a entrevista do então governador Antônio Carlos Magalhães desvenda de forma clara o autoritarismo da época, é a partir dos relatos do próprio Theodomiro sobre como foi preso que se percebe o viés político (e covarde) empregado. A figura do filho, ouvindo os relatos e tentando compreender, é a síntese da geração atual, que não vivenciou tamanha perseguição.

    Por mais que seja um documentário interessante, por vasculhar reações emocionais tantos anos após o ocorrido e relembrar (um pouco) o que foi a nossa ditadura, Galeria F peca um pouco por este lado ameno adotado. Fosse mais incisivo, o próprio tema ganharia força e a denúncia seria mais contundente. Havia espaço para tanto.

    Filme visto durante o Festival É Tudo Verdade, em abril de 2016.

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