Infelizmente, estou impedido de opinar sobre detalhes técnicos como fotografia, por exemplo, porque vi o filme numa sala horrível: tela pequena, projeção escura e de má qualidade e som baixo. Portanto, vou me ater ao conteúdo do filme.
Como era de se esperar, Olavo apresenta um repertório matador. O filósofo (sim, filósofo!) apresenta, já de início, conceitos bastante complexos com uma didática que lhe é peculiar. Passeia por Aristóteles, Platão, Voegellin, Raimundo Faoro e até (quem diria!) Heidegger entre outros; sempre trazendo de forma prática os conceitos que lhe são mais caros.
O longa não chega a trazer nenhuma grande novidade para quem é leitor do Olavo. Mas para os que não têm tanto contato com a sua obra é uma boa porta de entrada. Sem contar que o lado humano do protagonista -- por vezes ignorado por seus seguidores mais devotos -- é muito bem retratado com participações muito bem-vindas de Roxane, sua esposa.
Merecem também destaque a homenagem feita a Bruno Tolentino -- prefaciador do livro que dá nome ao documentário e o momento em que Olavo apresenta o setor de sua biblioteca onde guarda seus livros sobre comunismo, deixando estupefatos os que ainda não fazem idéia da dimensão de seu conhecimento sobre o tema.
Por fim, merecem destaque as sintetizações que o documentado faz sobre temas como: Direito, estamento burocrático, importância da academia, paralaxe cognitiva, morte e eternidade. Aqui o filme se mostra digno de, ao invés da tradicional pipoca, ser assistido com papel e caneta nas mãos para tomar nota ao longo da sessão.
Há porém os contras: penso que o filme peca no que diz respeito a forma como foi filmado. A câmera, quase sempre estática, é pouco convidativa e facilmente dispersa o espectador menos interessado. Às vezes, fica-se com a impressão de que o longa foi feito para ser assistido apenas por quem já admira o Olavo.
Senti falta também de alguma referência à teoria das camadas da personalidade -- um dos pontos mais altos da filosofia olaviana.
Em resumo: o documentário é bom. Não chega a ser dos melhores como estão afirmando os mais apaixonados. Mas é, sem dúvida, um marco histórico para a cultura brasileira. Os protestos de alguns cineastas de viés progressista se justificam: o cinema era sua última trincheira ainda intocada pelo contraditório. Agora acabou o monopólio. E acabou logo com um documentário sobre seu maior algoz.
Vida longa a Olavo de Carvalho! Concordando ou não com ele. Homens com tamanha disposição e envergadura intelectual devem sempre ser homenageados.