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    SHOT! the Psycho-Spiritual Mantra of Rock
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    Rodrigo de Assis
    Rodrigo de Assis

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    4,5
    Enviada em 2 de fevereiro de 2017
    Ao leitor, façamos um exercício. Imaginemos, juntos, um homem com cabelos bagunçados, óculos escuros, amante de poetas malditos – como os simbolistas franceses ou os beatniks americanos –, um gosto descomedido por entorpecentes, uma câmera fotográfica nas mãos e um nome que exale rock’n’roll, algo banal como Mick Rock. O arquétipo não seria perfeitamente cabível para um fotógrafo, digamos, de ensaios com músicos, capas de álbuns e shows? O homem com uma câmera, presente em muitas confraternizações do meio musical e registrando-as com um olhar apurado, existe e é tudo o que foi descrito, ou, “apenas”, “o homem que fotografou os anos 70”.

    O objeto de retrato nesse documentário é Michael David Rock (sim, esse é seu conveniente nome real), que foi amigo – e fotógrafo – pessoal de astros como David Bowie, Lou Reed, Iggy Pop, Debbie Harry e muitos outros músicos transgressores de 1970 e adiante. Mick, assim como muitos de seus amigos, teve um problemático envolvimento com drogas e esse recorte ganha atenção no longa. O espectador é logo apresentado a um jovem numa maca sendo levado às pressas para o hospital. A cama é colocada numa sala ampla, vazia e escura. Apenas uma luz acima, quase divina, ilumina o garoto de cabeleira desgrenhada ligado a tubos que o mantém vivo. O verdadeiro Mick Rock observa seu eu passado e confessa o momento em que atingiu o fundo do poço.

    Em “Shot! O Mantra Psico-Espiritual Do Rock” (2016, EUA), dirigido e roteirizado pelo inexperiente – ao menos no cinema – britânico Barney Clay, o foco é, principalmente, na década de maior prestígio da carreira do fotógrafo que zomba de ser um estereótipo. Em entrevista à revista CULT, quando uma exposição sua foi trazida ao MIS (Museu da Imagem e Som de São Paulo) em 2014, Rock conta que pegou pela primeira vez numa câmera na época da universidade, em 1968, enquanto viajava de LSD com um amigo.

    Nesse mesmo período conheceu Syd Barrett, um dos membros-fundadores do Pink Floyd, logo depois que havia deixado a banda. Syd precisava de alguém para fotografar a capa de seu vindouro álbum solo – lançado posteriormente em 1970 –, “The Madcap Laughs”. “E com um nome como Mick Rock, de algum jeito pareceu natural e que eu estaria predestinado a trabalhar principalmente com músicos! Não pude lutar contra isso!”, debocha o artista.

    Para um documentário de alguém que clicou algumas das imagens mais icônicas de um período tão pautado nas aparências para artistas musicais como o Glam – cujo meio Mick diz que se identificava, diferente do punk –, não poderia faltar uma bela estética. Parte dela inclui uma trilha sonora com o melhor da década de 70, inserts em animação 3D para representar as viagens lisérgicas da cabeça do protagonista e muitas fotos do acervo pessoal de Mick.

    A cinematografia de Max Goldman garante um visual escuro, elegante e misterioso. O rosto de Rock é filmado na contra luz, alimentando ainda mais as lendas que giram em torno dele que, conforme conta, era convidado para todo o tipo de orgia e festas em Nova Iorque durante os seventies. Ao mesmo tempo, ele não se poupa de confissões, nem foge de seus demônios. Com franqueza, conta do seu nocivo vício em cocaína e como não podia ser confiado em determinado ponto de sua carreira. Conforme o filme avança, o jovem Michael luta para sobreviver no leito hospitalar, enquanto o presente, paradoxalmente, lamenta e celebra suas imprudências passadas.

    O documentário tem um grande cuidado com sua sofisticada estética, assim como em retratar Mick Rock com respeito e de forma enigmática. É, no final das contas, uma das melhores pedidas para os amantes de couro, cromo, lissergia e Glam, ou, apenas o bom e velho rock’n’roll.
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