I, Tonya
O longa é baseado em eventos reais sobre a vida de Tonya Harding, uma ex-patinadora artística americana. Narra o nascimento de uma estrela a partir de sua infância, passando pelo estrelato e terminando em um final de carreira trágico. Dirigido por Craig Gillespie (A Hora do Espanto) e estrelado pela maravilhosa Margot Robbie (uma das mulheres mais sexy do planeta), Sebastian Stan, Julianne Nicholson, Caitlin Carver, Bobby Cannavale e Allison Janney.
O roteiro de Steven Rogers (não é o Capitão América - kkkkkkk) estava perdido na BlackList de 2016, até Margot Robbie decidir buscar um papel que a elevasse em um novo patamar na indústria cinematográfica americana (além de atuar, ela também assina a produção do longa). Até então, Robbie havia aparecido inicialmente na obra-prima de Scorsese ("O Lobo De Wall Street") e de lá pra cá ela sempre vinha fazendo papéis com pouco destaque, como em "Golpe Duplo" e "A Lenda de Tarzan". Em 2016 ela ganhou todas as atenções quando encarnou a belíssima Arlequina em "Esquadrão Suicida" (o filme é péssimo, mas ela é o que ainda salva o longa). Robbie queria mais, queria ser notada e nos impactar com um grande trabalho, e não é que ela conseguiu nos impressionar, nos brindando com sua brilhante e estupenda atuação em I, Tonya.
O longa funciona como um documentário baseando-se em relatos e reportagens da época, com uma apresentação narrada por cada um envolvido na história (ao final o longa apresenta imagens reais de Tonya competindo). O filme começa nos mostrando a infância da pequena Tonya, quando ainda era uma criança severamente castigada pela impiedosa e inescrupulosa mãe, o que de certa forma contou muito pra formação do carácter de Tonya. Uma infância pobre, dura e sofrida em Portland, em que mãe lhe exigia a perfeição no esporte, passando por uma adolescência amarga até chegar na vida adulta. Vida essa em que Tonya conhece seu abusivo e violento marido.
A forma trágica como acompanhamos toda trajetória da vida de Tonya é de doer na alma. Tonya foi violentada pela vida, tendo que conviver com uma mãe daquele nível e um marido daquela espécie. Ela sofria todos os tipos de abusos e agressões físicas e mentais, tanto pela mãe, que a atacava de todas as formas e sem nenhum pudor, quanto pelo marido, que a violentava e agredia. A úncia coisa que Tonya sabia fazer na vida (e muito bem por sinal) era a patinação artística, o que de certa forma funcionava como uma válvula de escape para o seu dia a dia.
Tonya apostou todas as suas fichas no esporte que ela tanto amava, se tornando a primeira mulher a conseguir o feito do "triple axel" em uma grande competição. Apesar do grande feito, o que ficou marcado na sua história foi a dura rivalidade com a patinadora Nancy Kerrigan e todo ataque planejado pelo seu marido e seu segurança. Envolvida em tais fatos, Tonya teve a sua carreira interrompida no atletismo, sendo exonerada do posto de patinadora da equipe norte-americana nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1994 (e também proibida de praticar o esporte pelo resto de sua vida).
Margot Robbie entrega a sua melhor atuação da carreira até aqui, ao encarnar a vida de Tonya Harding. Uma atuação soberba, grandiosa, com muita maestria, ela soube extrair toda essência da personagem, nos alegrando nos momentos mais cômicos e nos emocionando nos momentos mais dramáticos. Robbie conduziu com muita dignidade o papel da princesa do gelo, nos mostrando os seus relatos que a levou do estrelato ao fundo do poço. Ela não se encaixava na temática, não seguia as regras, ela não era a imagem que eles queriam que representasse os EUA. Show, Margot Robbie deu um show em todos os sentidos e foi merecidamente indicada ao Oscar de Melhor Atriz. Uma pena que ela irá competir com duas atuações monstruosa de Sally Hawkins e Frances McDormand, mas é sua primeira indicação e sua hora vai chegar (ela já é uma ótima atriz).
Allison Janney entrega uma das melhores atuações que eu já vi na vida na pele de LaVona Harding, a mãe de Tonya. Uma figura desprezível, sarcástica, egoísta, sádica, que maltratava a filha em todos os sentidos, com agressões verbais e físicas (a cena da faca doeu em mim), com um ódio que era capaz de notar apenas com um olhar. Allison Janney está estupidamente fantástica em cena, está monstruosa, fascinante. A química entre ela e Robbie é estupenda, difícil me recordar de uma apresentação de mãe e filha com tamanha perfeição misturada com tamanha violência. Com essa atuação, Allison Janney ganha o Oscar de coadjuvante contra qualquer concorrente.
Devo destacar também Sebastian Stan, que fez o personagem Jeff Gillooly, marido de Tonya. Outra baita atuação, que foi correta do início ao fim, sem titubear, com uma química perfeita com Robbie. Eu indicaria fácil à coadjuvante no Oscar, ele entrega uma atuação fantástica, com muito brilho e muita segurança, fazendo parte direto na trajetória da vida de Tonya e sendo peça-chave no seu escândalo.
I, Tonya é uma obra-prima sensacional, genial, estupenda, onde tudo funciona com a maior perfeição possível, tudo milimetricamente acertado. Com uma belíssima narrativa, uma trilha sonora perfeita, uma fotografia prazerosa, uma edição à nível de Oscar, uma direção de arte de saltar aos olhos com a perfeição aplicada em cenários, figurinos, tudo muito bem ajustado pra época em que o filme foi rodado. As maquiagens e cabelos também foram destaques, como na própria Tonya, que teve uma maquiagem pesada, que envelheceu e enfeiou a atriz (como se fosse possível deixar a Robbie feia).
I, Tonya está indicado em 3 categorias no Oscar 2018 (Melhor Atriz, Atriz Coadjuvante e Edição). Porém, na minha opinião deveria ter ganhado mais indicações, acho que o filme tem um potencial incrível e deveria estar entre os indicados à Melhor Filme (caberia fácil nos lugares dos superestimados Corra e Lady Bird). Na realidade os americanos nunca gostaram da Tonya Harding (ela nunca foi a referência no "American way of life") e jamais indicariam a sua cinebiografia à Melhor Filme do ano. [17/02/2018]