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    Danado de Bom
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Danado de Bom

    A última impressão é a que fica

    por Taiani Mendes

    João Leocádio da Silva colocou na boca do Brasil sucessos como "Nem se Despediu de Mim", "Pagode Russo", "Meu Araripe" e "Danado de Bom", mas faleceu em 2013 desconhecido do grande público que certamente algum dia entoou uma de suas canções. Historicamente compositor não recebe retorno equivalente ao que produz em nossas terras e nem mesmo a longa parceria com o Rei do Baião Luiz Gonzaga foi capaz de colocar João sob os holofotes. Determinada a apresentar ao mundo o homem responsável pelas músicas citadas e outras milhares, a diretora estreante Deby Brennand realizou Danado de Bom, mais um instrutivo doc musical nacional, gênero fértil.

    O subtítulo diz As Músicas e as Histórias de João Silva e é isso que o longa realmente oferece durante seus 74 minutos – que parecem até mais. O início usa bastante a icônica imagem de Gonzagão como uma espécie de ponte entre o público e João, que revela em detalhes como se tornou parceiro e produtor do ídolo apesar do primeiro encontro um tanto quanto hostil. Contador de histórias adorável, engraçado e sem papas na língua, o compositor não tem vergonha de assumir que deixou o sucesso subir à cabeça, se prejudicou pela bebida e vacilou no amor. Sempre em movimento, como passou a maior parte da vida, ele está indo de encontro a algo que não sabemos o que é e aceita a companhia do espectador na tal jornada como um novo amigo, para quem abre sinceramente o coração e o baú de memórias. Junto da narrativa linear vêm as músicas, apresentadas com letra na tela para o público cantar junto na sala de cinema.

    Produzido em quatro etapas (2007, 2011, 2013 e 2015), o Danado de Bom tem as marcas do demorado processo na sua versão final. A montagem é bastante irregular, com transições terríveis, e as entrevistas parecem retiradas de outro filme, tamanha é a discrepância do estilo e qualidade de vídeo dos depoimentos em comparação com as gravações do protagonista. A própria condução da trama tem momentos de trepidação. Uma bela narração poética com a voz de Siba Veloso é usada nos primeiros minutos e logo abandonada, voltando apenas no ato final; a apresentação dos sucessos como num karaokê – opção curiosa, inesperada e bem feita – é frequente na primeira parte e some sem deixar pistas conforme o tempo avança e deslocados clipes musicais proliferam. A conversa sobre os romances e a fama de conquistador que jamais conheceu o amor se estende bem além do necessário, ocupando valiosos minutos que poderiam abordar a faceta intérprete de João – discos são apenas mostrados, sem comentários –, seu trabalho como produtor ou músicas menos batidas e tão bonitas quanto as populares, por exemplo.

    Quem nunca ouviu falar de João Silva sairá do cinema mais informado do que entrou e os que o conheciam apenas de nome vão se encantar com sua graça, inteligência e sinceridade. Danado de Bom cumpre sua missão de exaltar os contos e o cancioneiro do compositor, mas é difícil evitar o desapontamento quando imagens em filme 16mm de João visitando o terreno em que morou quando criança em Arcoverde, Pernambuco, ganham a tela. Muito superiores a tudo visto até então, os registros indicam como o longa poderia ter saído lindo e rico em poesia (tal e qual a obra do personagem) se tivesse ousado não seguir o padrão do documentário biográfico musical e adotado plenamente o amarelo do sol nordestino no lugar do cinza das imagens de arquivo.

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