“Posso ser eu mesma?”
Após assistirmos ao documentário Whitney: Can I Be Me, dirigido por Nick Broomfield e Rudi Dolezal, a tradução do título da obra ganha todo um novo contexto. A pergunta fica ecoando como um grito, quase como uma súplica, de alguém que, ao decorrer de uma bem-sucedida carreira como cantora, nunca pôde ser ela mesma, não tinha amigos de verdade próximos a si e estava rodeada de pessoas que não enxergaram – ou não quiseram perceber – o quanto ela precisava de ajuda.
Whitney nunca pôde ser ela mesma artisticamente. Descoberta, no início da década de 80, por Clive Davis, presidente da Arista Records, a carreira de Whitney foi toda moldada para que ela fosse vista, não como uma cantora com influências da música negra norte-americana, e sim como uma cantora pop, cujo estilo musical agradasse plateias de todos os tipos – o que fez com que Whitney passasse por problemas de aceitação dentro de sua própria comunidade.
Whitney, dificilmente, manteve relacionamentos pessoais saudáveis. Para uma pessoa da posição de Whitney Houston, imagina-se a dificuldade de manter relacionamentos genuínos. Neste sentido, a artista, assim como muitos outros, sofreu muito com a natureza de algumas de suas relações. Em primeiro lugar, a família: totalmente dependente de Whitney financeiramente, já que todos trabalhavam próximo a ela, não ofereceram a ela a ajuda e o acolhimento que ela necessitava. Em segundo lugar, o casamento: Bobby Brown não era um parceiro perfeito e isso se refletiu em diversas esferas da vida de Whitney. Em terceiro lugar, os amigos: Whitney não estava cercada de pessoas próximas, nas quais pudesse confiar verdadeiramente. A sua amiga mais fiel, Robyn Crawford, foi obrigada a se afastar da cantora, por diversos motivos revelados no documentário.
Assim como na trajetória de outros artistas, cujas vidas foram ceifadas pelas drogas (Amy Winehouse é o nome mais recorrente, neste caso), Whitney Houston pode ser considerada como uma vítima. O que Whitney: Can I Be Me deixa subentendido é que ela nunca teve a possibilidade de pedir ajuda ou de ter ao seu redor pessoas que enxergassem a dependência química dela como um problema que necessitava ser abordado, com a ajuda necessária.
Apesar disso, o documentário falha muito por não retratar a derrocada de Whitney da maneira como ela deveria ser vista: de uma forma crua, de maneira até mesmo para servir como exemplo para outras pessoas que estão passando pelos mesmos problemas – Amy, de Asif Kapadia, é um filme mais forte neste sentido. Ou seja, esta é uma obra que fica mais como um importante registro sobre alguns dos fatores que contribuíram para o que aconteceu no dia 11 de fevereiro de 2012, quando Whitney Houston foi encontrada desacordada numa banheira de um dos quartos do Beverly Hilton Hotel.