Estima-se que, somente no Brasil, sejam diagnosticados mais de 150 mil casos por ano do distúrbio alimentar conhecido como anorexia nervosa, doença que leva a pessoa a desenvolver uma obsessão pelo seu peso e por aquilo que come. O tratamento para a anorexia nervosa pode ser crônico, durando anos ou uma vida inteira; e as estatísticas revelam que cerca de 5% das pessoas que são portadoras da doença morrem de complicações relacionadas à anorexia, dentro de um prazo de dez anos.
Quando observamos a jovem Ellen (Lily Collins), protagonista de O Mínimo Para Viver, filme produzido pelo canal de streaming Netflix, dirigido e escrito por Marti Noxon, enxergamos nela os sintomas típicos de alguém que possui anorexia. Além de tentar sempre se manter num peso abaixo do considerado normal, ela pratica excessivamente exercícios físicos (mais precisamente, abdominais) e sabe decorado as calorias que contêm os mais diversos tipos de alimentos. Pelos relatos de seus familiares, especialmente de sua madrasta Susan (Carrie Preston), Ellen entra e sai de tratamentos, na maioria das vezes malsucedidos, contra a doença.
Assistindo ao filme, percebemos que Ellen tem sérias questões internas a serem tratadas – a maioria relacionadas ao seu núcleo familiar, uma vez que o pai é ausente e a mãe (Lily Taylor) nunca está no momento certo para lidar com o “problema” que é a filha. Em acréscimo a tudo isso, Ellen ainda carrega um sentimento de culpa enorme pela morte de alguém que ela não conhecia, mas que foi tocada pelos desenhos que ela mantinha sobre a sua própria condição física numa página pessoal no Tumblr.
O Mínimo Para Viver acompanha Ellen em mais uma tentativa de tratamento, quando ela é aceita no programa Limiar, que é mantido pelo Dr. Beckham (Keanu Reeves). O tratamento segue métodos nada convencionais, em que a responsabilidade pela melhora ou piora é do próprio paciente e no qual ele tem total liberdade de escolha para enfrentar a sua condição e tentar abraçar a vida, buscando a recuperação da autoestima e a mudança dos comportamentos alimentares.
Só por tocar num tema tão importante quanto a anorexia nervosa já faz de O Mínimo Para Viver um filme bastante interessante. A obra tem um caráter educativo muito importante, no sentido de que disseca a doença e todos os truques que aqueles que a portam utilizam para enganar a si mesmos – e, por tabela, as pessoas que amam. A transformação física de Lily Collins é bastante contundente e a atriz se doou de corpo e alma a este papel. Entretanto, Marti Noxon peca na maneira como introduz, sem necessidade, um romance entre Ellen e um dos pacientes da Limiar. As mudanças pelas quais a personagem passa no decorrer do filme já falam por si só, sendo indispensável, neste caso, utilizar o amor como força motriz para as alterações que são fundamentais para a melhora da personagem. Antes de estar pronta para amar alguém, Ellen precisa aprender, acima de tudo, a amar a si mesma!