Uma mulher de 38 anos, em crise no casamento, insatisfeita no emprego, com várias diferenças em relação à mãe, é a personagem central de Como Nossos Pais, filme mais recente da aclamada e talentosíssima Laís Bodanzky, e que ganhou 6 prêmios (mais que justos, aliás) no Festival de Gramado este ano. Maria Ribeiro é a protagonista, e ela realmente tem uma atuação fantástica. Questões e conflitos familiares, em que toda aquela pressão de ser mulher brilhante, ótima mãe, excelente esposa, boa dona de casa, profissional extremamente qualificada... Tudo recai sobre a mulher moderna. E ai dela se não der conta. E Rosa é falha. Ela chega a um ponto que afirma não dar conta de tanta cobrança. E sofre com uma revelação bombástica da mãe em relação a quem é seu verdadeiro pai biológico. O filme tem muitos pontos altos, e um deles é nunca cair na pieguice. Rosa é uma mulher real, verdadeira, crível. Nada de histrionismo e exageros. E assim os demais personagens também são desenvolvidos. Não são pessoas idealizáveis, e sim facilmente identificáveis, como se diz: “do mundo real”. O elenco é extraordinário. Os destaques óbvios são para Maria Ribeiro, num papel complexo e bem definido, numa atuação firme e naturalista. Clarisse Abujamra então rouba todas suas cenas. Uma personagem forte em uma interpretação marcante e, eu diria até, brilhante. Felipe Rocha e Paulo Vilhena também têm ótimos momentos em cena. Em papeis menores, Jorge Mautner e Herson Capri dão conta do recado com categoria. A direção segura de Bodanzky, a apurada e impecável parte técnica, a sensibilidade do roteiro muito bem construído... O final em aberto pode deixar algumas pessoas insatisfeitas, mas tudo é coerente em cena. Tudo evolve para um filme que teoricamente parece simples, mas que tem uma profundidade rara de se ver nos dias atuais. Um filme maduro, bonito, tocante e que é mais um belo exemplo de que o cinema nacional pode ser universal e muito bem realizado.