"Assassinos da Lua Das flores é mais um excelente filme de Martin Scorsese que nos mostra mais uma vez o motivo pelo qual ele é um dos melhores diretores da atualidade.”
Scorsese é considerado por muitos o melhor diretor da atualidade, apesar de ser alguém com opiniões fortes, e há pessoas que não gostam dele por sua crítica contundente aos filmes de super-heróis, nos quais afirma que longas desse gênero não são cinema. Odiar o homem apenas por causa de sua opinião é algo ridículo e sem sentido. Independentemente de você concordar ou discordar de sua opinião, não dá para negar a importância que ele tem para o cinema. Todos os amantes da sétima arte já assistiram pelo menos três de seus filmes. Em termos de cinema e construção da mise-en-scène, não há ninguém no mundo que entenda mais do assunto do que Scorsese. Novamente, ele demonstra ser um maestro no cinema, sabendo contar uma boa história e transformá-la em uma obra audiovisual de excelência. Com o filme Assassinos da Lua das Flores, ele nos reafirma sua capacidade e mostra como ainda tem muito a contribuir.
Qual a História de Assassinos da Lua Das Flores?
Assassinos da Lua das Flores, filme do diretor Martin Scorsese, é inspirado no best-seller homônimo do escritor David Grann e também baseado em uma história real. O ano é 1920, na região norte-americana de Oklahoma e misteriosos assassinatos acontecem na tribo indígena de Osage, uma terra rica em petróleo. O caso foi investigado pelo FBi, agência que tinha acabado de ser criada na época.
Os assassinatos dados a partir de circunstâncias misteriosas na década de 1920, assolando os membros da tribo Osage, acaba desencadeando uma grande investigação envolvendo o poderoso J. Edgar Hoover, considerado o primeiro diretor do FBI. Durante a investigação é descoberto um esquema do pecuarista William Hale (Robert De Niro), que convenceu seu sobrinho Ernest Burkhart (Leonardo Di Caprio) a se casar com Mollie Kile (Lily Gladstone) a fim de melhorar as condições da reivindicação das preciosas terras.
O roteiro é escrito por Eric Roth e pelo próprio Martin Scorsese. A história é baseada em eventos reais e é bastante intrigante.
No início do filme, somos apresentados ao mundo e suas regras. Em geral, esse começo nos oferece uma visão da cultura dos Osage, mostrando seus costumes, e como suas vidas foram afetadas após a descoberta de petróleo na região, além de nos mostrar a dinâmica de poder local — quem o detém e o que é valorizado.
O Longa apresenta diversos personagens interessantes. Em sua maioria, eles são egoístas e movidos por seus próprios interesses. Podemos dizer que a trama é um jogo de interesses entre eles, evidenciando um dos piores traços da natureza humana: a ganância. O filme nos mostra até onde a ganância pode levar e quais são suas consequências.
O personagem Ernest é particularmente cativante. Além de desejar enriquecer, ele se preocupa com sua família, mas também é ávido por dinheiro e busca aumentar sua fortuna seguindo seu tio William Hale. Isso cria uma contradição intrigante. Em determinado momento, ele terá que escolher entre sua família e seu tio, e essa situação é habilmente explorada, permitindo ao público compreender a escolha do protagonista.
William Hale é um personagem complexo. Publicamente, ele é visto como um homem generoso que ajuda os Osage, mas secretamente, ele elabora um esquema para enriquecer. Essa dualidade é interessante, pois os habitantes não desconfiam dele, já que sua imagem pública difere da sua verdadeira natureza. Isso acrescenta profundidade ao personagem, com uma dimensão pública e outra privada, onde apenas algumas pessoas próximas conhecem sua ganância e seu desejo de acumular riquezas.
Mollie é uma personagem que não é motivada pela ganância, mas sofre as consequências do esquema de William Hale. A narrativa explora sua reação a essas consequências de forma detalhada, mostrando como Mollie lida com a situação e as repercussões que isso acarreta para ela e as pessoas ao seu redor.
O filme se passa em 1920 em Oklahoma, a cenografia é excelente, criando com precisão a estética da época. Os locais são muito bem construídos, proporcionando uma sensação autêntica de estar no passado, e contribuem para que acreditamos na ambientação histórica. Os detalhes, como os carros da época, desempenham um papel fundamental nessa ambientação, sendo modelos antigos com capotas abertas, vidros planos e rodas desgastadas, bem diferentes dos carros contemporâneos. Esses veículos não possuem teto ou vidros laterais, contando apenas com uma capota.
Os figurinos dos personagens são de alta qualidade. Jacqueline West, a figurinista, conseguiu retratar de forma espetacular e rica em detalhes as vestimentas da comunidade nativa. Mollie, membro da tribo Osage que se destaca no filme, utiliza roupas tradicionais Osage, e se enrola em cobertores por cima de sua vestimenta. Proporcionando um toque autêntico.
A direção de fotografia é ótima.
A iluminação proporciona volume e profundidade de campo em várias cenas, e está em perfeita sintonia com o que a narrativa exige.
Os enquadramentos são excepcionais, com a fotografia acertando precisamente quando e como aplicá-los. Para as cenas de diálogo, são utilizados primeiros planos, enquanto os momentos mais emocionantes e sentimentais dos personagens são capturados com primeiros planos ou primeiríssimos planos. Esses enquadramentos servem para expressar o estado emocional dos personagens.
Em um momento de sofrimento e choro de um personagem, há o uso de um plano geral que é magistral, pois consegue ter um impacto maior do que um enquadramento mais fechado, ao mostrar ele no chão, chorando e desferindo golpes no chão.
Os Planos gerais no longa são usados para contextualizar a localização dos personagens e para mostrar o cenário, reforçando a ambientação no passado. Além disso, há planos detalhes que focalizam objetos relevantes para a história, como detalhes do livro dos Osage, que fornecem informações importantes sobre eles.
A câmera se movimenta em diversos momentos, incorporando vários tipos de movimentos, como travellings. Essa movimentação é coerente com a narrativa e adiciona uma dinâmica envolvente às cenas.
A trilha sonora é excelente e desempenha um papel fundamental na construção da ambientação sonora. Além disso, ela intensifica diversas cenas, amplificando o que vemos na tela. As Músicas são inseridas nos momentos apropriados e demonstra um excelente timing na sua utilização.
Os atores entregam performances excepcionais, destacando-se especialmente Leonardo DiCaprio, Robert De Niro e Lily Gladstone. Leonardo DiCaprio entrega uma ótima atuação, trazendo o personagem à vida de maneira magistral, explorando suas emoções e a contradição interna de ter que fazer uma escolha entre a família e o tio.
Robert De Niro é um ator com quem Scorsese gosta de trabalhar, e eles já colaboraram em 10 filmes. De Niro oferece uma performance brilhante, capturando com maestria os dois lados de seu personagem, tanto o aspecto ganancioso quanto a fachada de ser uma pessoa bondosa que se preocupa com os Osage.
Lily Gladstone, por sua vez, é uma grande surpresa com sua atuação de alto nível. Ela consegue retratar de forma impressionante como sua personagem lida com sua doença e expressa seus sentimentos diante dos assassinatos em sua comunidade, incluindo pessoas próximas a ela. Mesmo atuando ao lado de talentos tão renomados como DiCaprio e De Niro, Lily Gladstone consegue brilhar.
A direção do filme é excepcional. Martin Scorsese conta a história de forma magistral, incorporando uma estética incrível e aplicando seu estilo, linguagem e elementos que já conhecemos de sua filmografia, que se encaixam perfeitamente nesse longa-metragem. Scorsese mais uma vez entrega um filme excepcional e nos lembra por que ele é considerado um dos melhores diretores do mundo, senão o melhor da atualidade.
No geral, ‘Assassinos da Lua das Flores’ é um excelente filme que merece ser conferido, não apenas por sua história envolvente, mas também por ser uma obra de Martin Scorsese. Muitas pessoas certamente apreciarão o filme, embora haja aquelas que podem não gostar tanto devido à sua duração de 3 horas e 26 minutos, considerando-o longo demais.