Trapalhadas no espaço
por Francisco RussoPor mais que tenha conquistado prêmios mundo afora, a recente animação brasileira ainda carece de um sucesso de público. Uma tarefa nem um pouco fácil, diante do atual reinado das animações computadorizadas protagonizado por Disney, DreamWorks, Illumination e Blue Sky. Com muito menos dinheiro e bem mais dificuldades técnicas a enfrentar, como competir de igual para igual?
BugiGangue no Espaço chega ao circuito com esta inglória tarefa, usando como trunfo uma boa pitada de Brasil em meio a um formato já consagrado, que tenta atrair os pequenos sem entediar os maiores. Para tanto, o longa-metragem de estreia do diretor Alê McHaddo aposta firme em referências. Há um Seu Madruga aqui, um Super Mario ali, personagens de Star Wars em situações inusitadas, menções a O Guia do Mochileiro das Galáxias, E.T., O Senhor dos Anéis e tantos outros ícones pop. Tais personagens surgem sempre como figuração, sem jamais se envolver na história principal - e, com isso, a aparição soa mais como mera curiosidade. O que não acontece quando o filme investe em lendas contemporâneas nacionais do porte do E.T. de Varginha e do chupacabra, que ganham personalidade e participação importante dentro da história.
Só que, por mais que busque esta identificação junto ao público brasileiro, BugiGangue no Espaço possui diversos problemas estruturais. A começar pelos próprios personagens da BugiGangue, um mais estereotipado que o outro e com claríssimas limitações em relação às expressões faciais - apesar do visto em cena ser um grande avanço em comparação ao curta BugiGangue - Controle Terremoto, que serviu de ensaio para o longa-metragem. Tais deficiências técnicas podem ser notadas em vários outros momentos, em cenas onde o próprio movimento é apresentado mais lentamente, dando a impressão que faltou um acabamento final que a tornasse no mesmo padrão do restante da animação. Falha grave, ainda mais em um mercado tão competitivo quanto o da animação.
Entretanto, o maior problema é mesmo narrativo. Com uma história repleta de piadas sem graça e sem timing, o filme investe na aventura de um grupo de amigos rumo ao espaço sideral, a bordo de uma nave pilotada pelos simpáticos e sempre atrapalhados invas. É interessante notar que, para retratar a ingenuidade destes pequenos seres esverdeados, McHaddo e sua equipe optaram por adotar o batido estereótipo do sotaque do interior - muito bem dublado por Guilherme Briggs, que dá voz a todos os invas vistos em cena. Outro ponto questionável é a sexualização precoce vista na cena em que Mariana surge com sua "roupa de viagem espacial", na qual Gustavinho de imediato solta um "gostosa". Isso envolvendo crianças em torno de 10 anos, em um filme claramente voltado para o público infantil.
Investindo em gírias típicas do cotidiano nacional e em áreas de interesse que sejam próximas de seu público-alvo, como a influência dos videogames e o ato de colecionar miniaturas, BugiGangue no Espaço peca também no roteiro simplório, que deixa de lado certos personagens e situações por não serem convenientes naquele momento. Com diálogos duros, que não fluem bem dentro da própria animação, o filme rapidamente se torna cansativo. Ainda mais devido aos problemas técnicos que apresenta.
Diante desta série de problemas, um dos poucos destaques acaba sendo a canção original "Martelinho de Ouro do Espaço Sideral", bem humorada e repleta de suingue. Os invas como personagens também são interessantes, pelo carisma trazido pelas confusões infantis que provocam. Mas, com problemas narrativos, técnicos e de dublagem, não há muito o que salvar neste filme - nem mesmo o 3D, utilizado de fato em poucas sequências.