Os Excêntricos Meyerowitz
por Lucas SalgadoOs Meyerowitz: Família Não Se Escolhe é o mais novo trabalho do diretor Noah Baumbach, conhecido por A Lula e a Baleia e Frances Ha. Exibido no Festival de Cannes 2017, o longa foi protagonista do debate sobre a presença de filmes da Netflix em eventos cinematográficos internacionais. Independente do formato, é importante destacar que trata-se de uma obra muito interessante, com elementos de comédia e drama. E que tem um grande mérito: Adam Sandler.
Sim, você não leu errado. Adam Sandler é a melhor coisa do filme. E isso não está sendo dito de forma irônica ou pejorativa. O ator já havia demonstrado talento em Embriagado de Amor, Tá Rindo do Quê? e Homens, Mulheres e Filhos, e aqui brilha como Danny Meyerowitz, um músico fracassado que se muda para casa do pai após o divórcio.
O pai, Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman), é um escultor aposentado do cargo de professor universitário. Com a carreira menos consagrada do que gostaria, ele teve vários casamentos fracassados, os quais lhe renderam três filhos. Além de Danny, acompanhamos o bem sucedido executivo Matthew (Ben Stiller) e a exótica Jean (Elizabeth Marvel).
Roteirista de A Vida Marinha com Steve Zissou e O Fantástico Sr. Raposo ao lado de Wes Anderson, Baumbach tentou criar sua família Tenenbaums. Não chega a ser tão especial, mas também possui elementos interessantíssimos, em especial no que diz respeito à dinâmica entre o patriarca e seus filhos. Harold sempre demonstrou mais interesse em sua carreira, deixando os filhos bem de lado. Com exceção do favorito Matthew.
Emma Thompson, Judd Hirsch, Rebecca Miller, Adam Driver, Candice Bergen e Sigourney Weaver completam o elenco da produção. Destaca-se ainda a jovem Grace Van Patten, que vive Eliza Meyerowitz, filha de Danny. A atriz protagoniza belas cenas ao lado de Sandler, além de marcar presença em um dos momentos mais bizarros da produção, que conta com a "participação" do Sr. Raposo.
Parceira de Baumbach em seus últimos filmes, a montadora Jennifer Lame realiza um trabalho bem irregular. Talvez por ter sido pensado para a Netflix - o que não é justificativa -, o longa faz escolhas bem equivocadas de montagem, inclusive mudando subitamente o padrão de transições ao transcorrer da história. Se no início temos cortes bruscos, no meio de falas, o que é muito interessante, já para o final o filme passa a investir em tradicionais fade outs, tornando a experiência menos original.
The Meyerowitz Stories (no original) é bem divertido, com momentos non sense especiais, como toda relação dos três irmãos com a enfermeira Pam (Gayle Rankin), que cuida de Harold em um momento em que ele está internado. É um amor tão gratuito pela personagem que é impossível não sorrir. Por outro lado, não é nem de longe tão eficiente dramaticamente quanto pretendia ser. Algumas dinâmicas funcionam, é verdade, mas outras são alongadas e previsíveis.
Filme visto no 19º Festival do Rio, em outubro de 2017.