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    120 Batimentos Por Minuto
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    120 Batimentos Por Minuto

    Cinema ativista

    por Francisco Russo

    Diretor bissexto com apenas outros dois filmes no currículo (Eles Voltaram e Meninos do Oriente), Robin Campillo decidiu deixar de lado o hiato de quatro anos para, uma vez mais, sentar na cadeira de diretor. Desta vez para apresentar a história do ACT UP, grupo francês que, nos anos 1990, ficou conhecido por promover ações não-violentas em defesa da prevenção e do tratamento em relação a AIDS. Mais do que entregar um filme institucional sobre a organização, o diretor investe firme no cinema ativista para compor um amplo painel do cenário homossexual da época, com seus prazeres, riscos e preconceitos.

    A partir de muita câmera na mão, 120 battements par minute tem como maior qualidade justamente a abrangência e o profundo conhecimento sobre o universo retratado. Bastante didático em relação aos ideais e modo de funcionamento do ACT UP, o longa-metragem aos poucos traça um panorama não apenas sobre o grupo, mas também seus principais expoentes. Cada um deles representa uma vertente deste momento em particular, onde é preciso não apenas batalhar por mais ação junto ao poder público e as empresas farmacêuticas, mas também sobreviver. Ao mesmo tempo em que é preciso tratar conceitualmente do combate a AIDS, é também necessário ter a humanidade necessaria para apoiar e confortar os infectados. A chave de tal dualidade, num misto preciso e doloroso de fatalismo e esperança, é dita por um dos personagens principais: "estamos todos mortos e vivos".

    Neste sentido, chama a atenção o olhar profundamente humano de Campillo, que apresenta sonhos e mazelas sem prestar qualquer julgamento. Em meio à urgência por respostas, há espaço para a paixão e o desejo da mesma forma que cada ação do ACT UP é precedida por debates democráticos onde todos têm voz. Aos poucos, ao espectador é esmiuçado sobre cada detalhe do modo de agir da organização, não apenas nos eventos realizados mas também na forma de divulgá-los. Fazer barulho é essencial, não só para ser ouvido mas também para dirimir preconceitos enraizados.

    Desenvolvido de forma a conquistar corações e mentes, ao menos daqueles que acreditam na pluralidade, 120 battements par minute é um retrato preciso sobre a cultura gay, sem estereotipá-la. Seu maior pecado é, nesta busca por ser completo, por vezes permitir que a militância ultrapasse as necessidades da própria história. É o que acontece especialmente no final, quando o diretor não resiste à tentação de mostrar o desfecho de um dos personagens principais ao invés de focar na metáfora existente entre vida e morte, apresentada minutos antes. Menos seria mais, ao menos neste caso, o que se reflete também na excessiva duração do longa-metragem: 140 minutos.

    Com um elenco coeso e competente, onde o brilho maior fica com o carisma sedutor de Nahuel Perez Biscayart, 120 battements par minute tem um grande valor humanitário, ainda mais em uma época de tantos preconceitos. Se como cinema comete alguns excessos, isto muito acontece devido à ansiedade em falar sobre o máximo de assuntos possível, de forma a ser fiel não apenas ao grupo retratado, mas especialmente às pessoas envolvidas. Vale ressaltar também a forma como o diretor representa o desejo, sem pudores e como algo necessário para sentir-se vivo.

    Filme visto no 70º Festival de Cannes, em maio de 2017.

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