Raças em conflito
por Lucas SalgadoPrimeiro trabalho do diretor David Ayer após receber uma enxurrada de críticas negativas por Esquadrão Suicida, Bright é um filme peculiar e de muita personalidade. Ele cria um cenário ficcional repleto de criaturas e espécies diferentes, mas insere em um cenário urbano bem conhecido do público, debatendo exageros da força policial e conflitos raciais. De certa forma, lembra um pouco a ideia de Neill Blomkamp em Distrito 9, mas menos futurístico e mais pé no chão.
Feito diretamente para a Netflix, o filme é conceitualmente interessante, possui uma concepção fascinante, mas a execução, infelizmente, joga muito a perder. A obra é visualmente muito rica, contando com ótimos trabalhos de design de produção e especialmente maquiagem/penteado. São várias espécies diferentes, sendo Orcs e Elfos os mais destacados, além dos humanos, é claro.
Sem os problemas/vícios de montagem de Esquadrão, o longa remete aos dramas policiais dos anos 70 e 80, passando bem o sentimento de tensão racial desde a primeira cena. Neste sentido, é interessante a escolha de um ator negro (Will Smith) para assumir o posto de policial racista diante de um Orc (Joel Edgerton).
Will vive um policial humano que acaba de se recuperar de um tiro recebido por um Orc numa operação passada. Seu parceiro na polícia, um outro Orc (Edgerton), não é visto com bons olhos pelo restante do departamento. Em sua primeira operação após a recuperação, a dupla acaba se deparando com uma Elfa que possui um artefato que pode ser usado para reviver o Senhor das Trevas, criatura malígna que dominou a Terra por muitos anos num passado distante, e que é a razão principal pela qual todos odeiam Orcs.
Ao colocarem a mão no artefato, os dois acabam no foco de diversos grupos que querem o poder do mesmo. E grupos dos dois lados, da polícia e dos bandidos.
O grande problema do filme está no fato de que a história não é boa o suficiente para prender a atenção do espectador e a relação entre os personagens está bem longe de ser bem trabalhada. O próprio Ayer já havia se saído muito melhor em outro drama policial: Marcados para Morrer.
Ayer também não se livrou de todos os vícios dos trabalhos anteriores. A fixação com câmeras lentas em cenas de tiroteio é irritante. O elenco até está bem, mas a superficialidade dos personagens dificulda um trabalho mais destacado. Além de Will e Joel, Lucy Fry, Noomi Rapace e Édgar Ramírez integram o time da produção.
A ideia de O Senhor dos Anéis encontra Dia de Treinamento pode até sobreviver um brainstorm, mas não sobreviveu essa adaptação.