Antes de se transformar no 44º Presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama era apenas Barry, um jovem estudante do curso de Ciências Políticas, na Universidade de Columbia (Nova York). Alguém que, devido à sua origem multicultural (pai nascido no Quênia, mãe nascida no Kansas, criação em cidades como Honolulu e Jacarta), não se sentia pertencente a nenhum lugar. A verdade é que, como Barry, produção da Netflix dirigida por Vikram Ghandi, nos leva a crer, Barack Obama, nessa época, ainda não tinha se encontrado de verdade.
Barry acompanha justamente o primeiro ano da sua personagem principal (Devon Terrell, na sua estreia como ator) na Universidade de Columbia, em 1981. Apesar de Nova York ser uma cidade cosmopolita e multicultural como a sua própria origem, é certo dizer que Barry teve dificuldades de adaptação, não só à vida como universitário, como também em relação aos seus colegas. O senso de não-pertencimento aumenta ainda mais quando ele desenvolve um relacionamento com a também universitária Charlotte (a talentosa Anya Taylor-Joy, vista recentemente em Fragmentado, filme de M. Night Shyamalan).
O filme também nos mostra os primeiros momentos em que Barry entrou em contato com as dificuldades de ser negro num país como os Estados Unidos. Apesar de estudar numa universidade privilegiada, onde ele poderia viver num dos dormitórios destinados aos estudantes, Barry optou por morar num bairro mais popular, próximo da realidade de pessoas como ele. Fica subentendido também que foi nesse momento em que Barack decidiu iniciar um caminho mais próximo aos direitos civis.
Entretanto, o eixo de Barry está na maneira como o protagonista lida com sua própria intimidade. O filme deixa claro que a ausência do pai foi um dos pontos mais importantes para a lacuna que ele sentia dentro de si mesmo. Quando vemos o Barack Obama de olhar distante e pensamento fugidio, sabemos que ele está em busca dele mesmo. É como se ele não sossegasse até encontrar o seu papel/função nesse mundo. Só assim, ele se sentiria pertencente a algo, inserido em um determinado contexto. Esse senso de inquietação está presente durante toda a duração de Barry.