Quando os clichês encantam mais uma vez
por Barbara DemerovAs comédias românticas estão sendo lançadas em menor número de uns anos para cá, mas ainda têm lugar cativo do coração do público. Doentes de Amor (indicado ao Oscar 2018 de Roteiro Original), O Bebê de Bridget Jones, Descompensada e Do Jeito que Elas Querem são exemplos mais recentes que demonstram o quanto este estilo pode dar certo com histórias completamente diferentes. Se por um lado o cinema abraçou forte os super-heróis, os espectadores ainda querem espaço para novos filmes leves e, por que não?, previsíveis. Neste ponto, quem pode ter encontrado sua chance de ouro foi a Netflix.
O enorme sucesso de A Barraca do Beijo, produção original da empresa lançada em maio, deixou o público com a esperança de que a Netflix teria mais estímulo para dar atenção ao romance - além dos convencionais dramas e séries que produzem com dedicação para atrair indicações em premiações. A boa notícia é que O Plano Imperfeito, diferente do que seu título diz, pode ser o novo passo de um plano ideal para o serviço de streaming obter o melhor dos dois mundos: o prestígio pela seriedade e a base de fãs com o entretenimento pipoca que inegavelmente é difícil de se render.
O Plano Imperfeito é um filme sobre dois assistentes cujos chefes aterrorizam suas vidas com tarefas e dias intermináveis. A fim de conseguirem ter de volta suas vidas sociais, Harper (Zoey Deutch, muito confortável em seu papel) e Charlie (Glen Powell) unem forças para que os chefes Kirsten (Lucy Liu) e Rick (Taye Diggs) se conheçam e se apaixonem. O que poderia ser apenas uma chuva de clichês sem graça consegue ir além: o resultado é um inusitado mix de Diabo Veste Prada com Harry e Sally devido aos personagens cativantes e a um roteiro leve e marcante.
Com diversos acertos, especialmente na dinâmica de Harper e Charlie, o filme consegue cativar e divertir sem muito esforço. O roteiro não se prende à história dos chefes e aborda também o desafio de se encontrar, tanto pessoal quanto profissionalmente. Nada extraordinário, é claro, mas definitivamente algo agradável de assistir. No entanto, erros pontuais de ritmo devido a personagens coadjuvantes (como de costume em algumas comédias românticas) quebram o ritmo de algumas cenas ao inserir uma pitada de comédia um tanto desnecessária.
No mais, O Plano Imperfeito é mais um acerto da Netflix e um ótimo exemplar de como uma comédia romântica deve ser: sensível e prazerosa. Neste caso, a obra ainda traz algumas reflexões de brinde sobre crises de identidade - mesmo sendo entregues por caminhos tortos. Às vezes, só o que precisamos é de uma cena clichê ambientada em meio a uma movimentada e colorida Nova York, e não há nada de errado nisso.