Como padrão de seu enredo, o vencedor do Oscar chileno de Sebastián Lelio, Uma Mulher Fantástica, desafia a mente e envolve o coração. A alma empática do filme de Lelio é a musa do diretor Daniela Vega, no papel de Marina, uma mulher submetida a constantes exclusões físicas e emocionais, cuja vida se desfaz com a morte de seu amante mais velho Orlando (Francisco Reyes) e a investida abutre de sua família odiosamente crítica. Instantaneamente, Marina é uma suspeita, desconfiada e excluída, fisicamente pelos médicos e pela família de Orlando, por Marina ser transgênero. Cercada por um mundo cruel que simplesmente não pode se permitir aceitá-la, ela é uma alma fraturada e ao longo do filme deve suportar insultos e agressões. Só Orlando realmente apreciava sua beleza. Para uma obra de tão intensa força, o filme de Lelio consegue contar sua história com sutileza e graça absoluta. Linda, sincera e intrinsecamente pertinente, Uma Mulher Fantástica é uma experiência espetacular que se espalha pelo tempo de tal maneira que seus 104 minutos parecem muito curtos. É um estudo de caráter silenciosamente modesto, bonito, mágico e totalmente humano. Recomendo.
O filme começa bem , o roteiro é muito interessante! mas do meio pra frente , o que poderia ser um grande filme , se torna bastante monótono e passivo! , poderia ser muito melhor trabalhado..,pois a originalidade do roteiro, dá campo para isso.., faltou profundidade e sensibilidade na condução do filme.., creio que o nome do filme não condiz com a história, eu esperava uma mulher empoderada e plena..! mas o que vemos é um sentimento de impotência!. , mas ainda assim a história é lúdica e mostra muito dos preconceitos da sociedade sobre o tema. A trilha sonora é muito boa! as partes do canto de ópera são encantadores! A fotografia também é muito boa! , a filmagem intimista! repleta de enquadramentos , é uma marca do filme. Bom elenco , destaque para a dupla de protagonistas.
No primeiro ato de "Uma Mulher Fantástica", filme dirigido e co-escrito por Sebastián Lelio, ocorre aquele que é o acontecimento que move toda a trama: o falecimento de Orlando (Francisco Reyes), parceiro de Marina (Daniela Vega), em decorrência de um aneurisma. O que iremos assistir no decorrer do resto do longa são as reações ao que ocorreu, principalmente aquelas que estão relacionadas à Marina, uma mulher trans.
Após o falecimento de Orlando, iremos ver Marina ser violentada em todos os seus direitos: como parceira, lhe é negada a possibilidade de se despedir do namorado e de vivenciar o seu luto; e como mulher trans, ela sofre com o preconceito e a raiva da equipe médica, da polícia (que vai investigar o caso, pensando se tratar de um crime sexual) e da família de Orlando.
Apesar de todos esses percalços, de toda a dor que envolve a perda do parceiro, o que chama a atenção em Marina é toda a dignidade, energia e força com a qual ela enfrenta todas essas questões. O seu silêncio cortante diante de tudo que se passa com ela, na realidade, reflete o seu sofrimento íntimo e a forma reclusa - e às margens de toda a sociedade - com que pessoas como Marina são obrigadas a vivenciar todas as suas dores. É quase como se a ela não fosse permitido ser vista em sua existência, no seu luto, e no amor que ela tinha por Orlando.
É um trabalho belíssimo e sensível de Sebastián Lelio, vencedor do Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro.
Freud em 1917 escreveu um dos seus textos mais fundamentais, "Luto e Melancolia" e como poucos, o pai da psicanálise adentrou pelos pormenores da natureza psíquica humana afim de entender os fenômenos que compõe o nosso consciente e inconsciente. Para Freud o sujeito em luto ou melancólico está ligado ao objeto perdido por um processo de identificação, que muitas vezes pode tornar indissociável a conexão entre o Eu e o Outro, e assim quando o sujeito perde o outro é como se perdesse parte de si. Para superar o processo de luto o Eu precisa percorrer um longo caminho. Em a Mulher Fantástica Sebastián Lelio volta a trabalhar com uma temática sensível e delicada que mostra algo da natureza humana. Assim como em Glória, a protagonista daqui, não se deixa levar pelo vento rebelde de uma vida onde é preciso se vitimizar para ser ouvida. Ambas protagonistas são em certa medida donas de si e de sua identidade. Marina, personagem interpretada de forma magistral por Daniela Vega, no entanto, ainda está em processo de transição e aceitação de seu corpo, quando seu parceiro romântico, um senhor de meia idade morre. E é partir disso que Sebastián vai mostrar com diversas alegorias um processo de incertezas e crescente revolta, sob o olhar do preconceito, um movimento de como é difícil virar uma página inacabada. No plano inicial a água já denuncia a explosão de sentimentos que vai perpassar a protagonista, quando a família do falecido amor a ignora como mulher e lhe tira o direito de luto. Virar a página até chega a ser tentado, mas para superar o luto é mais do que claro, é preciso se despedir do morto. Esse processo acompanha sua evolução como mulher, para no final ela se tornar dona de sua própria voz. Quando entendemos e percebemos que para a pessoa trans o entendimento de si mesma e a transição do corpo não basta, mas funciona, se associado à colocação do sujeito para o outro e instigando significantes para a sociedade com suas relações multiplicas com outros sujeitos e assim ser interpretada como deseja, mulher. Se compreendermos essa mensagem Sebastián fez um bom filme.
Um roteiro pesado e reflexivo sobre transfobia. Mesmo sendo parado e até de uma interpretação incomoda, Daniela nos surpreende com todo seu sofrimento calado e humilhado exaustivamente, se mantendo forte e intacta. É triste e revoltante.
UMA MULHER FANTÁSTICA poderia ser muito mais do que um filme sobre uma mulher transexual. Quando, desapontado, acabei de vê-lo, tive a certeza de que o tema, se discutido com mais profundidade e sensibilidade, realmente teria rendido um filme fantástico sobre uma mulher plena. Concordo com os que disseram que a atualidade do tema foi o que lhe conferiu o Oscar de melhor filme estrangeiro. As deficiências da atriz principal podem ser observadas desde a sua primeira cena e nada há de impactante, nem atuações, nem diálogos, muito menos algumas cenas fantasiosas e óbvias. Quando confrontado com um dos concorrentes ao Oscar que lhe conferido, o filme russo DESAMOR, tem-se a certeza da fragilidade de sua condução. Enquanto o russo desenvolve nossa curiosidade, apreensão e, por fim, nosso asco diante da pequenez e feiúra interna humanas, o filme chileno nos faz achá-lo aborrecido e inócuo. Um desperdício!
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