Lars Von Trier se entrega completamente ao seu egocentrismo e soberba em seu novo filme, com toques de genialidade e sutilezas de fracasso ao mesmo tempo, o novo filme do sempre polemico diretor dinamarquês exige esforço mental e estomacal para digerir e assistir suas duas horas e meia sobre a filosofia da arte, ou a filosofia de um assassino, ou a filosofia da violência, são alguns pontos entre as varias divagações que permeiam o longa.
Primeiramente, seu roteiro segue de praxe a divisão que Lars Von Trier costumar usar, com epilogo e prologo, mas se assemelha em especial com seu ultimo longa, “Ninfomania” pela constante conversa com um ouvinte, mas não apenas por isso, há um paralelo muito claro em suas ambições, em “Ninfomaniaca”, Lars Von Trier tenta explicar o mundo e a natureza humana através do sexo, aqui, temos os mesmo objetivos, mas com focos mais abrangentes, como arte, violência, sadismo e religião. Lars Von Trier faz um grande filme pelas múltiplas visões de intepretações, podemos interpretar o longa como a viagem a psique de um psicopata ou podemos nos atentar as suas explicações e desculpas filosóficas para a morte, vida, arte e mundo, ou podemos apenas ver um filme sobre um assassino, “A casa que jack construiu” precisa muito da maturidade do espectador, pois é um filme que exige muita atenção para conseguir compreender seus signos, mesmo que alguns, Lars Von Trier jogue na sua cara. Temos discussões que vão sobre a vilanização do homem na cultura moderna a até a arte na pratica de genocídios, passando por amor e materialização na arte e busca por sentimento, são muitas ideias, e o grande demérito do filme é não consegui completar e concluir todas somente nesse longa, visto que em sua cinematografia, Lars complementa esses temas. Lars se utiliza de um recurso de roteiro muito próprio, a divisão em 7 partes que contam historias aleatórias tiram a sensação de progresso de enredo do telespectador, que para os mais espertos, só vão conseguir enxergar o andamento e a divisão dos atos através da conversa do nosso protagonista com o personagem do “verge”, além de diversas metáforas envolvendo seus sentimentos, como a própria casa ou a porta do frigorifico que não abre, o filme causa um certo distanciamento do protagonista com o público, pois nosso protagonista é completamente depravado e doente, mas não devemos julgar ele nem seus atos para poder embarcar em sua jornada doentia com requintes de crueldade e genialidade proporcionadas por Lars Von Trier e Matt Dillon.
Algo interessante, é que Lars Von Trier sempre deixou claro em seu filme as diferenças entre homem e mulher, segundo seus longas, mulher é a expressão do sentimento e o homem da razão, e seus longas sempre são protagonizadas por mulheres, seria Lars Von Trier querendo dar um sentimentalismo a sua obra? Mas “A casa que jack construiu” é protagonizado por um homem, e segundo sua própria logica, não poderia ser diferente, pois um das vertentes do filme, é a própria busca pelo sentimento, pelo sentido, é sempre interessante ver um autor coerente com sua própria obra. Tecnicamente, Lars Von Trier faz um grande trabalho, como de praxe, diversas misturas de elementos visuais que proporcionam uma experiência visual e de entendimento, pois o uso da técnica na explicação da mensagem funciona como artificio de roteiro pretendo o telespectador, temos a clássica câmera de mão –Odiada por muitos- Mas que dá um ar muito naturalista ao filme, o uso ótimo da trilha sonora, que mescla uma musica clássica a um Rock/Jazz frenético sem parecer forçado, o que complementa a ideia de naturalidade, é realmente, como se estivéssemos de camarote vendo Jack contar sua historia. Falando em Jack, que atuação magnifica de Matt Dillon, com certeza a melhor que vi no ano até então, uma pena que o filme com certeza vai ser ignorado de grandes festivais e vai acabar ficando sem prêmios e sem indicações ao oscar.
Podemos concluir essa critica de “A casa que jack construiu” falando de uma cena em especifica, a cena a onde Jack fala sobre o auge da violência cinematográfica, e nesse momento, são exibidas diversas outras cenas de filmes do Lars Von Trier, uma alta referencia, um toque de egocentrismo e soberba, talvez os dois, isso resume sua obra e esse seu ultimo longa, um filme ambicioso, mas que cumpre o que promete não com extrema perfeição, mas com muitíssima qualidade, um filme feito para os amantes do cinema e entusiastas do movimento dogma95, para mim, o melhor filme que vi no cinema este ano até então, experiência cinematográfica de linguagem e imagem a uma moral que que brinca com as entranhas do telespectador, não é um filme fácil, mas é um filme que merece ser visto e revisto.