Tempestade de nostalgia
por Lucas SalgadoLançado em 1981, Os Saltimbancos Trapalhões é um verdadeiro clássico do cinema nacional, chegando a figurar no livro 100 Melhores Filmes Brasileiros, organizado pela Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Dirigido por J.B. Tanko, o longa unia a obra de Chico Buarque de Hollanda com o quarteto mais divertido do audiovisual nacional, os Trapalhões, em seu auge. Agora, 36 anos depois, já sem as presenças de Mussum e Zacarias, volta aos cinemas brasileiros de forma remodelada e carregada na nostalgia.
Sim, nostalgia. Esta é a palavra-chave. Pega figuras conhecidas e músicas famosas, e as insere em um ambiente tradicional. Os Saltimbancos Trapalhões - Rumo a Hollywood não corre muitos riscos. Na verdade, os evita ao máximo, buscando sempre o mais fácil. E funciona. Acaba por oferecer uma experiência leve, de bom entretenimento.
O longa original tinha como ponto mais fraco a sequência de sonho que falava sobre o sonho de ir para Hollywood. Curiosamente, o diretor João Daniel Tikhomiroff julgou interessante justamente investir mais nesta história, o que acaba rendendo os piores momentos do novo filme, incluindo a abertura, passada numa cerimônia de premiação em Los Angeles, com direito a trocadilhos como Vin Gasolina, em referência a Vin Diesel.
Os fracos efeitos visuais e as piadas sem graça podem assustar o público no início, mas, acredite, a coisa melhora consideravelmente. Ainda na premiação, ao colocarem Dan Stulbach interpretando Tom Hanks. Mas a evolução acontece de fato ao sermos jogados de volta ao circo que abriga Didi, Dedé e companhia.
A trama é bem simples, por vezes simplória. Em uma grave crise financeira, o Grande Circo Sumatra começa a abrir espaço para eventos como leilões e comícios políticos, deixando as apresentações dos artistas circenses em segundo plano. Infelizes com a situação, Didi e outros funcionários tentam convencer o Barão a deixá-los montar um espetáculo musical para tentar trazer o público de volta ao circo.
Como podem ver, trata-se de uma obra sem conflito. A ideia de que um político alugaria o circo para todo o sempre e inviabilizaria as apresentações faz pouco sentido. A produção também é ambígua no debate sobre a utilização de animais no circo, algo proibido recentemente no Brasil e que prejudicou muitas arenas do tipo. O filme levanta a questão mais de uma vez, mas parece não saber qual lado defender.
São vários os pequenos problemas de roteiro, mas trata-se de um longa com muito coração. E muito por causa da boa presença de Renato Aragão e Dedé Santana. Limitados fisicamente, a dupla de Trapalhões entrega cenas divertidas e bem humoradas. E bom vê-los em cena lado a lado. Nos lembra de uma época feliz.
A direção musical de Claudio Botelho e Charles Möeller, que adaptaram o texto original para o teatro a pouco tempo, é um dos trunfos da produção. Todas as cenas musicais funcionam, muito por causa da opção em usar corais em boa parte dos números. Passa a sensação de ser algo grandioso.
O elenco conta ainda com as presenças de Letícia Colin, Rafael Vitti, Livian Aragão, Emílio Dantas, Alinne Moraes, Marcos Veras, Maria Clara Gueiros, Nelson Freitas e Marcos Frota.
Quando anunciaram um novo Saltimbancos Trapalhões, o medo era algo que atingisse a memória do original. Felizmente, o que temos é uma grande homenagem. Uma celebração dos Trapalhões. Dos vivos. E dos mortos. Estarão para sempre na memória do espectador brasileiro. E é muito melhor que continuem através de obras do tipo do que com programas/especiais de humor raso na TV.