O show de Frances McDormand!
TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri
O grande embate do Oscar 2018 na categoria "Melhor Filme" está entre TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME e A FORMA DA ÁGUA (isso é fato, a não ser que o Oscar apronte das suas como faz de vez em quando). TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME está indicado em 7 categorias no Oscar 2018, incluindo Melhor Filme (fortíssimo candidato pra levar a estatueta de filme do ano, apesar da minha torcida ser inteiramente de A FORMA DA ÁGUA).
O longa é escrito, produzido e dirigido por Martin McDonagh e estrelado por Frances McDormand, Woody Harrelson, Sam Rockwell, John Hawkes e Peter Dinklage. Martin McDonagh entrega o trabalho da sua vida até o momento. É realmente impressionante o trabalho desenvolvido em TRÊS ANÚNCIOS, como roteiro, produção, montagem, direção, cenários, ambientação, fotografia e trilha sonora. Tudo feito minuciosamente com o maior cuidado possível, com uma riqueza de detalhes fantástica.
Quero destacar aqui o maior acerto de Martin McDonagh no filme, o roteiro! Um roteiro genial, magnífico, potente, forte, que nos passou todos os sentimentos envolvidos por cada um presente naquela cidadezinha. McDonagh nos brinda com muita dignidade ao contar a sua estória fictícia com uma forma assombrosa de passar os fatos e os acontecimentos. Um roteiro que poderia facilmente se encaixar em uma história real, porque a forma como McDonagh encaixa o roteiro e os personagens é algo maravilhoso de se acompanhar. McDonagh vai além de um simples roteiro de um crime não solucionado no estado de Missouri, ele ousa ainda mais ao misturar temas como o racismo, o humor negro, os abusos sexuais, com uma crítica ácida aos departamentos de polícias dos estados americanos.
O longa foi indicado em 7 categorias no Oscar com muita dignidade. Tudo no filme funciona de forma magistral, a começar pela trilha sonora de Carter Burwell, que está simplesmente soberba, magnífica, esplendorosa. Uma trilha sonora forte, com músicas de épocas que se encaixaram de forma magnânima na trama. A direção de arte também dá um show à parte, ao nos mergulhar em uma cidade com cenários incríveis e ricos em detalhes, com uma ótima ambientação que acompanhava cada passo de cada personagem com muita sabedoria (nada passava despercebido).
Dois pontos foram cruciais para o grande sucesso de TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME! Um foi a sabedoria e inteligência de Martin McDonagh ao escrever um roteiro que beira a genialidade, e o outro foram esses três nomes que eu vou citar aqui: Frances McDormand, Woody Harrelson e Sam Rockwell.
Frances McDormand dá um show, carrega o filme nas costas! É impressionante o que ela faz em cena com sua personagem Mildred Hayes. Uma atuação impecável, segura, corajosa, forte, aguerrida, com muita personalidade de uma mulher destemida e implacável na busca em solucionar o crime brutal de sua filha. Uma personagem marcante, que tinha seus medos e suas ambições, que buscava a qualquer custo o que queria (me remete a várias personagens femininas de filmes das décadas de 80 e 90). Frances McDormand está em seu ano, já ganhou o Globo de Ouro, Critic´s Choice Awards, SAG Awards e está indicada à melhor atriz no Oscar e no BAFTA. Torço muito pela Sally Hawkins, daria o prêmio pra ela com toda certeza, mas devo admitir que o Oscar desse ano é de Frances McDormand e ninguém tira.
Woody Harrelson também é destaque no longa, como o chefe de polícia Bill Willoughby. Um personagem muito importante na trama, que também carregava seus problemas pessoais. Gostei muito do personagem do Woody Harrelson, achei perfeito as partes em que ele contracenava com Frances McDormand e Sam Rockwell, porém devo admitir que eu esperava um pouco mais de tempo para o desenvolvimento total de seu personagem. Entendo perfeitamente as escolhas de Martin McDonagh referente ao seu roteiro, mas eu queria mais de Woody Harrelson em TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME (Woody Harrelson está indicado à coadjuvante no Oscar).
Sam Rockwell completa o trio de ouro de TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME! Típico personagem que dá show do início ao fim, nos impressiona em cada cena que aparece, por mais simples que ela seja. Podemos observar uma atuação completamente fantástica de Sam Rockwell, onde ele se mostra um policial arrogante e preconceituoso de início, com uma redenção altamente gratificante ao final. Assim como Frances McDormand, Sam Rockwell venceu tudo que foi indicado nesse ano, e também está indicado no BAFTA e no Oscar (outro que ninguém tira sua estatueta).
Já elogiei e dei todos os méritos ao roteiro de Martin McDonagh, mas não posso deixar passar a cena do bar, que pra mim foi a parte de maior escorregada do roteiro. Na minha opinião ele peca nessa cena, acho que deveria ter sido melhor trabalhada e melhor desenvolvida, achei muito piegas a forma como foi entregue, não me convenceu (sem falar que esse personagem aparece na loja da Mildred e depois na cena do bar e não mostra a que veio). Mesmo com a parte citada, isso não tira o brilho da obra magnífica de Martin McDonagh, que ainda nos entrega um final ambíguo com uma forma surpreendente e intrigante. [15/02/2018]