Espero que minha crítica ajude a compreender peculiaridades tecnológicas mostradas neste filme do ponto de vista de um geek :3
Primeiramente este produto cinematográfico também é uma crítica social (+1 estrela), de que cada vez mais tecnologias estão entrando em nossas vidas pessoas (redes sociais, direitos de privacidade do usuário e a falta de protocolos segurança), dentro de nós (como a aplicação ocular que proporciona realidade aumentada ), os crimes virtuais, mas o foco deste filme é a dimensão de uma falha num sistema operacional em que um hacker/cracker consegue acesso total a qualquer informação/lembrança de forma irrestrita. Um Windows XP da vida bastou para o ransomware WannaCry, fruto de informações e ferramentas vazadas pela NSA em 2017, infectar mais de 300 mil computadores em 150 países e ficariam inutilizados se não pagassem o resgate em bitcoins.
Na pós-produção (+1 estrela), é latente o investimento nos efeitos sci-fi que me lembram muito Watch Dogs (jogo) e Black Mirror (série), o pessoal de edição teve bastante trabalho para encaixar tudo isso.
Entretanto, apesar de uma boa pós-produção, não podemos dizer o mesmo quanto à narrativa/roteiro (-2 estrelas) com erros graves ao ponto de se perder a imersão para ficarmos achando as falhas e uma falta de entendimento sobre informática do Andrew Niccol (diretor, produtor e roteirista) que quase comprometeram completamente os enquadramentos, ritmo e atuação nas cenas (+1 estrela).
***Spoilers***
Anon andando na rua sem chamar atenção seria um problema (mesmo alegando um bug, é algo que se nota).
A equipe de investigação é incompetente, se for parar para pensar. Então o detetive (sem disfarce facial digital) vai ser isca de um criminoso que tem a capacidade de acessar dados e lembranças de qualquer pessoa em tempo real justamente depois de uma perseguição entre eles?
Ok, vamos expor o nosso detetive (como se fosse a única escolha e justificar o plano por causa da falta de vida ativa sexual) um risco real de morte, para colher provas suficientes e assistidas para uma prisão em flagrante, mas vamos culpar apenas o Sol por deixá-la escapar, certo?
Vou fazer uma analogia simplificada para facilitar o entendimento da cena e arregaçar ainda mais os problemas do roteiro: O IP é um registro do dispositivo do usuário para acessar a internet, Proxy é um caminho que um servidor proporciona para o IP/Usuário acessar a rede.
Qual a obsessão de quererem saber o Proxy se já tinham acesso a visão de Anon (IP) e também do apartamento (que pelo tamanho e 1 frame da imagem da janela, seria possível estimar sua localização).
Particularmente, senti um esforço de uma cena em insinuar que a investigação estava comprometida com um enquadramento estranho para o Sol questionar se estavam seguros.
A morte do filho foi uma homenagem/referência ao jogo Heavy Rain? (infelizmente, a relação dos personagens são muito superficiais).
Ninguém ficou interessado em prender Anon, mas Sol fez questão de ir no apartamento “indetectável”.
A cena final poderia ser cortada, uma transa não justificaria toda essa relação, principalmente tendo em vista personagens extremamente rasos (nem mesmo a morte do filho dele teve um aprofundamento adequado). Bastava o Sol sair da cena anterior, rolar um fade to black e aparecer uma mensagem de Anon.
***Vamos falar de coisa boa?***
Esta produção me lembrou de outras que não mencionei como Blade Runner, Matrix, A Origem, Eu, Robô, Altered Carbon, O exterminador do Futuro, A.I Inteligência Artificial, etc...
Contando com isso pensei em algumas coisas que poderiam deixar a narrativa mais interessante:
- Para justificar a missão “suicida” do detetive, ele poderia passar por uma situação parecida que o orc Nick Jakoby do filme Blight onde a corporação queria eliminá-lo.
- Quando Anon visitou Sol pela primeira vez e não aceitou o dinheiro, passou pela minha cabeça “nossa, ela nem está lá, é apenas uma projeção na mente de Sol”. Na realidade do filme seria possível e além disso, não vejo impedimentos para uma inteligência artificial trabalhar não só para ela, mas para um grupo (talvez seja clichê em chamar-se Anonymous), mas a ideia seria a mesma que no filme V de Vingança, só que no meio digital. Ou talvez aconteça uma crise como em Mr. Robot em que a “Evil Corp” perde para o hackerativismo.
***Conclusão ***
É sempre louvável a tentativa de criação de uma realidade futurista, ainda mais em um produto audiovisual como um filme. A humanidade caminha para essa “fusão” entre a máquina e o humano, mas se você não sabe explicar como funciona essa tecnologia, nem tente. Se quer expor questões jurídicas cuidado para não expor equívocos.
Com a quebra de imersão do espectador, o filme não se tornou tão interessante como prometia o trailer. A produção no gênero sci-fi é bastante exigente em razão a grandes franquias que existem até hoje e tentam manter o “nível” de qualidade.
O nome de Andrew Niccol pode ser agora um sinal de cautela para suas próximas produções.