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    No Olho do Furacão
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    No Olho do Furacão

    A um passo do guilty pleasure

    por Rodrigo Torres

    A carreira de Rob Cohen como diretor de filmes de ação é conhecida, e fala por si só. Tanto em trabalhos bem aceitos, como Coração de Dragão, DaylightVelozes & Furiosos e Triplo X, como no tenebroso Stealth - Ameaça Invisível, sua marca autoral é uma proposta de cinema simples, que invoca o público (médio) da maneira mais banal, até apelativa. Após contribuições na franquia A Múmia (Tumba do Imperador Dragão) e no gênero suspense (O Garoto da Casa ao Lado) com os mesmos traços, o cineasta surge cheio de energia em No Olho do Furacão. Mas sua motivação não é exatamente mudar, e sim elevar seu estilo camp a um novo patamar. Pro bem e pro mal.

    Em suma, No Olho do Furacão é um filme de assalto ambientado no mundo de Twister com o toque de absurdo de Sharknado. Se você curte esse combo inusitado, um tanto bizarro, e de potencial cômico inquestionável, um prólogo em que dois irmãos de nomes sugestivos (o determinado se chama Will e o mais novo se chama Breeze; em inglês, "Brisa") veem um tornado ganhar um rosto maléfico (como um dementador de Harry Potter) ao levar seu pai é o melhor cartão de visita possível. A entrada de um prato cheio. Sem metáforas, é o momento para entender o que vem adiante e esfregar as mãos — ou se desarmar. Pois tudo a seguir adota a mesma linha.

    A trama de No Olho do Furacão se baseia no roubo de uma fortuna de US$ 600 milhões em notas velhas encaminhada para destruição. O vilão anuncia que deseja um assalto limpo, sem mortes, por puro teatro — instantes depois ele já empunha armas de fogo fazendo jus à atuação sempre-maléfica de Ralph Ineson, matando todo mundo com expressão de prazer, berrando que não pode haver testemunhas. Ainda é curioso perceber que o antagonista planejou tudo contando com "um pequeno furacão" (disparate que dispensa comentários) que relatórios metereológicos oficiais não previam. Mas o cúmulo da incoerência reside no trio principal, movido por um senso de benfeitoria que leva os personagens a tentar impedir o golpe somente até o momento em que tomam posse do dinheiro, decidem tomá-lo para si, sem maiores explicações. O ponto de conflito do filme não tem a menor razão de existir.

    Rob Cohen tem plena consciência disso, e por esse motivo No Olho do Furacão é ao mesmo tempo muito ruim, segundo parâmetros básicos de uma narrativa cinematográfica; e muito divertido, pela forma com que o diretor explora o descompromisso e a suspensão da realidade presentes no roteiro. Assim, se o limitado Toby Kebbell e o desconhecido Ryan Kwanten não fazem de Will e Breeze uma dupla exatamente cativante (o que não vale para Maggie Grace, que claramente não se leva a sério e evoca sua leveza no público), eles estrelam cenas incríveis. Vê-los suspensos no ar, pendurados por um cabo, resistindo a um furacão, é invariavelmente hilário, e a cena se torna empolgante. As mortes têm o mesmo efeito, com lugar destacado para a calota de carro transformada em bumerangue assassino graças à força do vento.

    Portanto, a distância entre curtir e detestar The Hurricane Heist (no original) se baseia mais em comprar ou não a ideia de Rob Cohen do que em gostar de um tipo de filme mais genérico. Ao menos até o ponto em que essa proposta se desequilibra e a radicalização das convenções do cinema de ação quebra uma linha tênue que invade a zona de conforto no momento de (não) pensar as principais cenas de ação. Bem no clímax, quando a fuga de um furacão (!) fica longa demais, a unidimensionalidade dos personagens e a previsibilidade dos acontecimentos manifestam apenas desinteresse, deixando uma impressão final ruim no que se apresentava como um guilty pleasure possível.

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