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    Funcionário do Mês
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Funcionário do Mês

    Para rir de constrangimento

    por Renato Hermsdorff

    Funcionário do Mês é uma repartição povoada de clichês. O filme do italiano Gennaro Nunziante é esquemático, caricato, previsível, até. Bem, pelo menos, à primeira vista. Se cinema é identificação, como tantos acreditam, você, latino (a), estará diante de um espelho tão nítido quanto amplificador que, no mínimo, vai te devolver umas boas risadas como reflexo. Explica-se.

    Maior sucesso de bilheteria da história da Itália, o longa narra a saga de Checco (Checco Zalone), um cidadão que tem tudo de que precisa. Por tudo entenda uma mãe dedicada que o mima; uma namorada que busca reproduzir o comportamento da mãe; um séquito de adoradores que o presenteiam a todo momento; e, acima de tudo, ele tem a estabilidade do emprego público – que, na realidade, é o imã que atrai todos privilégios anteriores.

    Os problemas do “funcionário do mês” começam quando um novo ministro, a fim de dar celeridade à máquina administrativa, resolve implantar um programa de demissão voluntária – que, a bem da verdade, não está nem aí para os funcionários. Checco, que não vai querer largar o osso, acaba numa espiral de transferências de cargos e cidades, levando à loucura a funcionária encarregada de fazê-lo assinar a maldita (bendita?) carta.

    E tome uma sucessão de de tiradas racistas, machistas, preconceituosas do personagem. Quem não tem um tio(a), primo(a), vizinho(a), amigo(a) – ou mesmo não é – assim, que atire a primeira fatia de pizza (ou laranja da feijoada). Um comportamento que, obviamente, o filme pinta abusando das cores fortes da comédia rasgada (ainda mais dinâmica com a inserção de alguns poucos e sempre irônicos números musicais) e um ritmo ágil.

    Para fazer sentido enquanto sátira, a (má) conduta não poderia passar impune. E o contraponto de Checco recai sobre a figura de Valeria (Eleonora Giovanardi), uma pesquisadora do Pólo Norte (sim, nosso anti-herói vai parar nos confins do mundo), defensora dos preceitos humanistas e do meio-ambiente, por quem ele se apaixona.

    Resulta que Quo vado? (no original) é uma análise crítica (bem, pelo menos à última vista) sobre a herança latina do jeitinho brasileiro (ou italiano). Em tempo de exacerbação da hipocrisia, um convite ao riso constrangido. E à reflexão.

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