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    A Última Terra
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    A Última Terra

    A dor e a poesia

    por Lucas Salgado

    Primeiro longa escrito e dirigido pelo cineasta paraguaio Pablo Lamar, A Última Terra é uma obra singular. Com apenas dois personagens e sem nenhuma fala, o filme diz muito pela força de suas imagens e por seu desenho sonoro.

    A história envolve um casal de idosos que mora em uma casinha de barro em uma zona rural. Em completa solidão, o senhor cuida de sua convalescida companheira, que parece próxima da morte. Ele faz de tudo para deixá-la confortável e cuida dos rituais necessários para sua passagem.

    De certa forma, o filme lembra o belíssimo Amor, de Michael Haneke. Inclusive no que diz respeito ao lado mais sádico do diretor. Já em sua primeira cena, em que o homem alimenta a esposa, que possui muita dificuldade para mastigar e respirar, o espectador se depara com uma dureza quase insuportável de assistir. Trata-se de uma abertura muito desconfortável.

    Como em Haneke, há quase que um fetiche pelo sofrimento, mas é inegável que o longa consegue despertar a atenção e o envolvimento do público.

    Lamar, que já havia trabalhado na equipe de som de filmes como O Som ao RedorPermanência, também é responsável pela direção sonora de A Última Terra. Por sinal, o som é o elemento mais forte da narrativa. Sem diálogos ou trilha sonora, a produção utiliza-se do som ambiente não apenas para colocar o espectador naquele ambiente, mas também para reforçar o desconforto com algumas sequências.

    Destaca-se ainda a atuação de Ramon Del Rio como o senhor. Há um permanente estado de lamentação e sofrimento em sua expressão. Vera Valdez, que vive a esposa, também está bem, mas em uma participação bem menor.

    Além do som, o filme usa muito o jogo de cores para criar alegorias entre morte e vida. A fotografia também merece ser ressaltada, oferecendo belas tomadas. No entanto, não há como não apontar um sério problema de ritmo da obra. São apenas 77 minutos, mas a ausência de falas e a insistência por tomadas paradas e silenciosas acabam incomodando bastante. Existem planos importantes em que pouco acontece, mas ao mesmo tempo o longa apresenta inúmeros momentos em que a beleza estética é colocada à frente da narrativa. Não faz sentido uma tomada de três minutos de uma pedra no chão. É enrolação pura.

    Ainda assim, estamos diante de um belo filme. Dolorido, mas também poético. 

    Filme visto durante a cobertura do 5º Olhar de Cinema de Curitiba, em junho de 2016.

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