De vez em quando acontecem algumas boas surpresas para um cinéfilo garimpador de filmes. A única coisa que sabia sobre este Divinas era o fato de ter ganho o prêmio de melhor filme de diretor estreante (o Caméra d´Or) no último Festival de Cannes. Mas agora o filme ganhou nova repercussão quando recebeu uma inesperada indicação ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro de 2016.
Embora o filme não tenha uma história extremamente original – a da amizade em meio a diversidades – é surpreendente a segurança e maturidade da diretora Benyamina em seu primeiro filme. E é sua qualidade como cinema que destaca Divinas como um filme quase obrigatório. É claro que ela teve a grande ajuda das 2 protagonistas, nos papeis de Dounia e Maimouna, jovens carentes de uma comunidade de imigrantes na França. Difícil dizer quais das 2 desconhecidas atrizes é melhor. Déborah Lukumuena, no papel de Maimouna, tem uma verve cômica cativante. Já a atriz Oulaya Amamra, por explorar a linha mais dramática, acaba se ressaltando, principalmente pela evolução da personagem no decorrer do filme. Todos os coadjuvantes também estão muito bem, com destaque para Majdouline Idrissi, no papel de mãe de Dounia, que possui uma cena de grande impacto dramático.
Divinas não deixa de lembrar um pouco nosso Cidade de Deus, no sentido de mostrar que pessoas vindas de um mesmo meio agressivo e sem oportunidades, podem trilhar caminhos diferentes. Djigui, ao invés da fotografia, encontrou na dança uma saída para uma vida melhor. Mas Dounia, também cheia de energia e vontade de viver, acaba trilhando o caminho aparentemente fácil do dinheiro vindo das drogas, quando busca Rebecca, uma traficante de sua comunidade. Suas escolhas erradas irão trazer consequências trágicas. Até mesmo a impossibilidade do seu amor por Djigui, que lhe acena brevemente com a oportunidade de uma vida melhor e digna.
Divinas nos faz lembrar que um bom filme pode se apoiar exclusivamente nas ferramentas básicas do cinema: roteiro, atores, direção, montagem e trilha sonora. Há um excelente uso da música, que inclui desde rap até ópera. A diretora constrói cenas extremamente simples, mas não por isso menos impactantes. Por exemplo, aquela em que Dounia e Maimouna “dirigem” uma Ferrari, e a cena que mostra um contraponto entre a apresentação de Djigui e a briga de Dounia com Reda, de quem ela foi roubar um dinheiro a mando de Rebecca. Mais uma vez neste momento o filme mostra que quer ir além de contar a história de uma amizade, chamando a atenção sobre a complexidade da vida e da condição humana. Pode haver violência, desamor e dificuldades, mas também pode haver beleza, amor e esperança.