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    John From
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
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    Férias Frustradas

    por Taiani Mendes

    Rita (Júlia Palha) faz uma piscininha na varanda do apartamento para refrescar seus pés. Rita se olha no espelho. Rita fala com o pai. Rita come. Rita fala com a mãe. Rita conversa com a amiga. Rita rejeita um casinho. Rita toca órgão. Rita caminha. Rita deixa recados no elevador. Rita curte uma festa. Rita tem ressaca. Rita conhece um novo vizinho. Rita tem um crush.

    Parece chato? Realmente é. John From trata-se de uma hora e meia no encalço de Rita, uma adolescente entediada, determinada e (já falei adolescente?) apaixonada – simplesmente por falta de algo melhor para se distrair. Mais triste ainda é que a expectativa do romance com o fotógrafo Filipe Mesquita (Filipe Vargas), apelidado de Coronel Tapioca, pode até animar sua vida, mas não gera uma faísca capaz de afastar o filme de João Nicolau da monotonia. Mas o realizador tenta. Insere alguns truques mágicos (com efeitos toscos), um nevoeiro impensável e até entra totalmente na fantasia melanésia mais para o final. Não é suficiente. O tédio então dá lugar ao humor involuntário, que já vinha dando as caras discretamente em cenas anteriores, e à incredulidade – como quando surge inserido digitalmente um casuar, animal conhecido como “a ave mais perigosa do mundo”.

    Nicolau, também corroteirista, entende sua personagem e, corajosamente, não tem medo de silêncios, câmera parada ou repetições. Júlia Palha, que interpreta a protagonista, não está mal. Pelo contrário. O problema é que o longa não é capaz de se sustentar além dos raros momentos de brilhantismo ingênuo de Rita. Os coadjuvantes surgem mais desinteressantes do que a banal rotina da garota de olhar pela varanda e tocar órgão, e seus relacionamentos não rendem. O ar 'misterioso indiferente' de Filipe (Filipe Vargas) não enfeitiça; Sara (Clara Riedenstein), fiel escudeira da protagonista, some por muito tempo e a ambiguidade da amizade das duas é boicotada pelo roteiro; Misha (Pedro Coelho) é mais um irmão caçula hipocondríaco do cinema contemporâneo – até onde vai essa moda/tendência? –; e os pais de Rita não aparecem o bastante e quando têm espaço revelam-se imprevisíveis mal construídos.

    Sacadas até bacanas, como a crença no iPod como óraculo e o recorrente “cãozinho horrível”, são como breves momentos de respiro em meio ao marasmo que condena a obra ao esquecimento imediato. O pai de Rita solta um "Isso é que é vida?" logo numa das primeiras cenas do filme e já ali, antes mesmo dos créditos iniciais, a vontade que dá é gritar: "Nããããããããão".

    O cotidiano chato da protagonista é apresentado com uma edição preguiçosa e, sem trama cativante ou ritmo, é difícil aguentar de olhos bem abertos o lento exercício de observação - e embarcar na viagem de Rita. Felizmente toca Kaoma algumas vezes...

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