Ainda que fora do estilo hollywoodiano com explosões e perseguições acirradas, e mesmo sem ser inspirado em algum clássico da literatura, a moderna produção espanhola, “Um contratempo” (2016), tira o seu fôlego a cada minuto durante o tempo em que a estiver assistindo, e até depois.
A trama gira em torno do preparo de um icônico e respeitável empresário para seu julgamento após ter sido acusado do assassinato de sua amante. Com uma história inocente, porém inacreditável e cheia de “buracos”, os detalhes que são questionados e explicados para preenchê-los com êxito no futuro julgamento são o início e o meio de uma nova e complexa teia de fatos e mentiras relacionadas a outro infeliz crime.
Se concentrando em um único e luxuoso apartamento que serve de local para diversas lembranças e flashbacks, a narrativa de pouco menos de duas horas de duração te leva constantemente para uma infinidade de caminhos, hipóteses e opiniões. Todos surpreendentes e questionáveis, mas sem pontas soltas.
O filme é um suspense gradual e incessante. A ausência de cenas de ação é preenchida pela falta de qualquer espécie de monotonia, seja pelo ótimo roteiro ou pela alternância de expressões de seus atores. Repleto de dúvidas e raciocínios, a obra não é nenhum questionamento puramente intelectual, e sim, um thriller que te faz olhar e trocar os alvos de ódio e simpatia freneticamente conforme a trama avança ou te faz achar que está avançando para um final imaginável ou simples.
Após a conclusão da obra, talvez uma ou outra ideia que tenha surgido na mente do espectador durante o desenrolar da trama seja parecida com algumas das várias suposições que a história te faz levantar. Contudo, a intensidade da surpresa e ansiedade que ela gera te deixarão com um aperto no peito e uma salva de palmas para a produção.
Um contratempo é um filme que te faz querer avançar no tempo para descobrir logo o seu final, mas que te impede de fazer isso pela crescente ininterrupta da quantidade e qualidade das descobertas e reviravoltas.