Quase diferente
por Renato HermsdorffQuase 18 é o retrato de uma geração, feito a partir da exceção que confirma a regra. O filme conta a saga de Nadine, estudante do ensino médio (high school) que não se encaixa em um mundo dominado por jovens cabisbaixos de nariz colado no celular, que se comunicam basicamente por meio de Emojis.
A protagonista é vivida por Hailee Steinfeld, a (ex)menininha que despontou com Bravura Indômita (2010), estrelou o subestimado – porém interessantíssimo – Amores Inversos (2013), além de Dívida de Honra (2014), entre outros, e, como se não bastasse, confirma com este The Edge of Seventeen (no original), que é uma das atrizes mais talentosas de sua geração.
Nadine é quase “velha” – e certamente analógica –, num registro entre o involuntariamente sedutor e o irritantemente adorável, mérito do roteiro assinado pela também diretora Kelly Fremon Craig (autora do texto de Recém-Formada). A realizadora lida de maneira madura com o arquétipo (explorado à exaustão por Hollywood) do desabrochar para a idade adulta (o tal “coming of age”, como eles gostam de se referir), para compor uma personagem que é uma pária, só que no bom sentido. Um papel irônico e de fácil identificação.
Inerente à idade, a garota se acha vítima de todas as injustiças do mundo, fato que é agravado quando sua melhor amiga – na verdade, a única –, Krista (Haley Lu Richardson) se envolve com o irmão da heroína às avessas, o perfeitinho Darian (Blake Jenner). Some-se a esse cenário uma relação (também inerente?) conflituosa com a mãe, o amor platônico pelo alternativo/ outsider da escola e, voilà, quase que Nadine tem razão.
O único consolo parece ser a figura de Mr. Bruner, o professor desacreditado no (e do) “sistema”, interpretado Woody Harrelson – papel escrito na medida para o ator de Zumbilândia, que tem caminhado para ser o novo Bill Murray no hall dos esquisitões adoráveis do cinema norte-americano.
Mais do que arquétipos, poderiam tratar-se de clichês. Não o são na medida em que cada um (com o perdão do lugar-comum) é preenchido de camadas que os tornam tão críveis, que é possível imaginá-los atravessando a sua rua. Se o irmão Darian, por exemplo, parece encarnar o típico quarterback insensível, um olhar um pouco mais aproximado e vemos que não é bem assim. Mr. Bruner está sempre pronto para dizer aquilo que... você não espera ouvir de uma autoridade. E todos os papéis guardam alguma dualidade da vida como ela é.
A combinação de personagens tão bem-construídos perde força quando eles são amarrados em um enredo que acaba se revelando um tanto convencional (ao contrário dos papéis). Estão lá a denúncia (na falta de uma palavra menos “séria”) da hipocrisia e egoísmo tão caros ao mundo como o conhecemos hoje. Mas também há um quê de previsível (o que também afeta o ritmo do) no filme produzido por James L. Brooks, de Os Simpsons. Tarde demais. Você já quer ser amigo de Nadide.