A FAVORITA (The Favourite
O longa é dirigido pelo Grego Yorgos Lanthimos (O Lagosta 2015 / O Sacrifício do Cervo Sagrado 2017), com um roteiro escrito por Deborah Davis e Tony McNamara, vagamente baseado em um história real.
A história se passa na Inglaterra do século 18, que está em guerra com a França. A Rainha Ana (Olivia Colman) ocupa o trono, enquanto Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough (Rachel Weisz) governa em seu nome, tendo uma grande influência na corte, enquanto exerce o seu poder de confidente, conselheira e amante da Rainha. Porém, o seu cargo é posto à prova com a chegada de sua prima Abigail (Emma Stone), que logo ganha a confiança de Sarah e cai nas graças da Rainha Ana, o que facilitará na execução de seus planos.
O longa de Yorgos Lanthimos vem ganhando muitas críticas positivas mundo afora, e com isso vem acumulando várias indicações e vários prêmios nos mais variados festivais. A Favorita esteve indicado no Festival Internacional de Cinema de Veneza, no Screen Actors Guild Awards, no Critics' Choice Movie Awards. No Globo de Ouro obteve 5 indicações e um prêmio para Olivia Colman. No BAFTA foi o mais indicado da noite, com 12 nomeações e com vitórias nas categorias de Atriz Coadjuvante (Rachel Weisz), Atriz (Olivia Colman), Roteiro Original e Melhor Filme Britânico, desbancando o badalado Bohemian Rhapsody. E no próximo dia 24 estará concorrendo em 10 categorias no Oscar 2019, incluindo as principais categorias da noite: Diretor, Atriz, Coadjuvante e Melhor Filme.
A Favorita possui pontos positivos, que me agradou muito, e pontos negativos, que me desanimou bastante. Começarei pelos pontos positivos e acertos do longa de Lanthimos.
Um dos maiores destaques é a direção de arte e a cenografia do filme, que estão impecáveis, com a maior perfeição possível. Com atenções muito bem voltadas para as mais variadas vestimentas da época da corte do palácio da Rainha, com todos os apetrechos e adereços se destacando de todas as formas possíveis. Além, é claro, das maquiagens e cabelos, que estão um verdadeiro luxo, principalmente sobre os destaques das duas belas atrizes: Rachel Weisz e Emma Stone. O desenvolvimentos dos cenários é de cair o queixo, com aquele belíssimo palacete e cenários que pareciam sair de uma peça teatral. A trilha sonora é um verdadeiro show à parte, é impressionante a forma como a trilha sonora está encaixada no filme. A cada minuto, a cada segundo, você é confrontado pela trilha sonora que acompanha cada passo da história, com uma riqueza voltada para os belos sons produzidos por pianos e violinos - um casamento perfeito que enriqueceu ainda mais a obra. Devo destacar também as formas de filmagens utilizadas pelo diretor Yorgos Lanthimos, com aqueles focos bem abertos e parados, que se sobressaíam aos cômodos do palácio.
O roteiro de Deborah Davis e Tony McNamara é o grande ponto em questão. Achei a ideia muito boa, ao mostrar um roteiro sobre a rainha e os seus desígnios, juntamente com o confronto do parlamento e suas motivações. Porém de uma forma totalmente sarcástica e cômica, que mais parecia uma grande brincadeira, uma peça teatral de comédia, com um discurso totalmente satírico e voluntário voltado para a monarquia. Essa ideia usada por Lanthimos é bastante convincente, ao suavizar o que viria a se tornar um tema político de grande repercussão. O núcleo das atrizes é o ponto alto do filme e o que definitivamente o segura, e a forma como a história de cada uma vai se desenrolando de maneiras distintas. Temos doses de drama, humor, sarcasmo, sexualismo, revolta, submissão, tudo bem elaborado na medida certa, sem grandes apelações com cenas gratuitas. Mas de certa forma o roteiro não me ganhou da forma que eu achei que ganharia, a premissa é boa, pode até funcionar, mas no geral eu achei um contexto entediante e cansativo. Eu fiquei esperando uma grande virada por parte da Rachel Weisz ou da Emma Stone que não veio, pelo menos não de uma forma memorável (a contar por ser tratar de um roteiro indicado ao Oscar), nem mesmo ao final. A minha empolgação foi diminuindo com o passar do tempo, e ao final das cansativas 2h eu já estava desanimado com o filme. Eu fiquei construindo várias possibilidades para as três personagens que eu achava que poderia acontecer, ou pelo menos melhorar de alguma forma, mas o resultado final pra mim foi um enredo bem morno, maçante, cansativo e sem alcançar a empolgação que eu imaginava - uma pena!
Olivia Colman realmente faz jus à sua indicação ao Oscar! Colman introduz uma carga dramática em sua personagem, que em contrapartida é suavizada pelo sarcasmo e o alívio cômico. Uma atuação que lhe exigia uma entrega diferenciada à personagem, até por adotar uma personalidade que estava enfraquecendo fisicamente e apresentando algumas dificuldades pela sua saúde, porém com um temperamento explosivo e tempestuoso. Olivia Colman levou o Globo de Ouro na categoria Melhor Atriz - Comédia ou Musical, O BAFTA de Melhor Atriz, e está indicada ao Oscar, mas acredito que dificilmente ela tirará o prêmio das mãos da Glenn Close.
Rachel Weisz está maravilhosamente bem no filme, é impressionante o que ela faz com sua personagem e o nível de atuação que ela consegue atingir. Rachel atua como uma espécie de amiga de infância e íntima da Rainha Ana, o que lhe dar grandes poderes e influências sobre a corte governamental, tomando decisões em seu próprio nome. Ela possui uma aproximação e um carinho diferenciado pela Rainha, que é aflorado quando seu posto está em risco. Rachel Weisz tem um crescimento e uma reviravolta em sua atuação muito digna, ao começar com o seu cargo intocável, chegando naquela mudança de personalidade ao final - SENSACIONAL! Nota 10 para atuação de Rachel Weisz em A Favorita! Rachel Weisz busca a sua segunda estatueta no Oscar desse ano (justíssima indicação por sinal).
Emma Stone finalmente consegue me convencer com uma atuação, e a nível de Oscar. Emma faz um papel forte, seguro, desafiador, que consegue expor todos os sentimentos de sua personagem, de uma maneira que cresce notavelmente em cena. O grande trunfo de Emma Stone está na maneira que ela interpreta, na forma suave e branda que ela se apresenta logo em sua primeira cena, conseguindo nos conquistar e nos fazer simpatizar por ela. Na medida que ela avança a sua conquista com a Rainha e a sua rivalidade com a Duquesa, sua atuação vai em uma crescente incrível, se mostrando em uma outra personalidade, totalmente diferente daquela pobre empregada que chegou ao reino. Agora totalmente decidida a que veio, ela nos surpreende com um personagem madura, arrojada, safa, sagaz e ambiciosa. Eu adorei a atuação da Emma Stone em A Favorita, pra mim, a sua melhor atuação da carreira até aqui, e pasmem....agora eu acho que ela merecia o Oscar de Melhor Atriz e não em La La Land (minha opinião). Emma Stone também está em busca da sua segunda estatueta no Oscar desse ano.
Portanto, A Favorita é um bom filme, que possui suas qualidades e seus defeitos. Não é nenhuma obra-prima (longe disso), mas se segura unicamente pelas três protagonistas, que dão um verdadeiro show em cena. Yorgos Lanthimos também concorre ao Oscar de Melhor Diretor, mas pra mim é uma indicação precipitada, acho que tem diretores que fizeram trabalhos melhores e mereciam uma atenção por parte da academia - como o próprio Bradley Cooper por "Nasce Uma Estrela". Assim como a própria indicação de A Favorita à Melhor Filme, que pra mim poderia estar como não estar, não seria nenhuma surpresa! [17/02/2019]
PS: a melhor parte do filme é ao subir dos créditos ao som de Skyline Pigeon - Elton John)