Perfeitamente calculado
por Laysa ZanettiDeixe a Neve Cair é a história que já foi vista nos cinemas e nas telas de TV dezenas de vezes, reeditada mais uma vez para atingir um novo público e uma nova leva de fãs, que chega atraída primariamente pelo elenco. Kiernan Shipka (O Mundo Sombrio de Sabrina), Jacob Batalon (Homem-Aranha: Longe de Casa), Isabella Merced (Dora e a Cidade Perdida), Shameik Moore (The Get Down, Dope) e Liv Hewson (Santa Clarita Diet) lideram o time que, por mais dedicado e carismático que seja, não consegue ser maior do que a trama recheada de clichês visíveis à distância.
É claro que, quando falamos de comédias românticas, e sobretudo histórias que tomam o período natalino como o principal propulsor, estamos tratando de tramas que, eventualmente, caem em alguns clichês de forma quase inevitável. As mais habilidosas utilizam estes lugares-comuns para que consigam alcançar uma mensagem mais elaborada, de forma que cheguem a uma conclusão e uma reflexão mais amplas
Infelizmente, não é o caso de Deixe a Neve Cair. A premissa e a estrutura dividida do roteiro, aliás, funcionam mais como mini-episódios que, eventualmente, chegam a um mesmo lugar. Neste sentido, o filme acaba perdendo em ritmo ao ficar extremamente engessado em um formato que dificilmente instiga a criatividade.
O diretor Luke Snellin, talvez mais familiarizado ao formato seriado por suas experiências com My Mad Fat Diary, Banana e Wanderlust, peca justamente por não conseguir aproveitar a cidade como elemento da história, como um personagem com vida e luz próprias. O resultado é menos irritante e mais decepcionante: há potencial escondido ali, que poderia ser melhor explorado se houvesse mais tempo dedicado aos personagens e menos aos supostamente “grandes momentos” — espalhados com tanta repetição que, no fim das contas, acabam perdendo um esperado impacto.
Vale destacar, no entanto, que essa estrutura segmentada talvez seja mais herança do livro do que propriamente uma decisão do diretor e do time de roteiristas, ainda que seja difícil isentá-los de uma decisão que necessariamente passa pela questão da autoralidade. No fim das contas, Deixe a Neve Cair acaba sendo o exato produto criado tendo em vista o algoritmo da gigante do streaming, e tem o grande ponto alto no elenco, cativante e bem entrosado, mas dificilmente vai muito além disso.