Como não aprender nada e se dar bem
por Taiani MendesCompletando duas décadas de carreira cinematográfica em 2017, Gerard Butler vem tendo dificuldade em reencontrar o sucesso alcançado no início dos anos 2000. Ignorando sua má fase e apostando na (inexistente) força do roteiro de Bill Dubuque (O Juiz, O Contador) para reverter o quadro, Um Homem de Família – ou O Recrutador, que seria o nome ideal – tenta usar o charme escocês do astro de 300 para vender um protagonista detestável. Não funciona.
Dane Jensen, seu personagem, é um recrutador inescrupuloso que se diz “vendedor”e lidera uma gangue de mentirosos que manipula currículos, expectativas e vagas para bater metas. Funcionário do intransigente Ed Blackridge (Willem Dafoe), ele disputa com Lynn (Alison Brie) a chance de substituir o chefe no comando total, decisão que será tomada com base nos resultados dos últimos três meses do ano. Tal responsabilidade potencializa suas artimanhas e afeta o já reduzido tempo que ele dedica à família. Seu foco, no entanto, é abalado pela doença de um dos filhos que tem com Elise (Gretchen Mol). Ou deveria ser. Dane é do tipo que não acredita na gravidade da situação, acha que o dinheiro pode resolver tudo e continua colocando a competição profissional acima da paternidade. Obviamente ele se arrependerá amargamente em algum momento, mas precisava demorar tanto? E ser de forma tão mal construída?
O roteiro de Dubuque sugere uma inspiradora trama de redenção que em momento algum convence. Dane começa babaca, termina babaca e é passivo nas grandes mudanças que ocorrem em sua vida ao longo da trama. Para dar aquela contextualizada básica, a crise econômica é brevemente citada e usada como justificativa para o excesso de trabalho do “herói americano”, como ele se denomina. Só não é tão ridículo quanto soa porque sua prepotência frequentemente é acompanhada de autocrítica, ainda que o fato de saber que está errado não o direcione a mudar suas atitudes. Como um legítimo bebê do patriarcado, ele escuta os conselhos dos homens que cruzam seu caminho como se nada daquilo tivesse sido indicado anteriormente por sua negligenciada mulher e o incrível poder da voz masculina é fundamental também no processo de cura da criança. Enquanto recolhe frases de efeito e é empurrado por terceiros para o caminho da “família em primeiro lugar”, o “último romântico” conhece melhor a esposa, o filho debilitado e as construções mais bonitas de Chicago num passeio em capítulos cuja maior utilidade acaba sendo mostrar que o tempo está passando, apesar de não parecer – e do arrogante Dane continuar repetindo seus erros.
Estreando na direção, Mark Williams não é iniciante na indústria, porém aparenta comandar submetido aos desejos do astro e produtor Butler. Não há estilo definido e os coadjuvantes estão divididos entre os sem direcionamento apropriado (Mol, a que chora sem lágrimas) e os sem tempo de tela suficiente para qualquer coisa (Dafoe, Molina, Brie). A personagem de Brie, aliás, é um caso à parte: única mulher vista no escritório, isolada em sua sala, é mostrada apenas vigiando o concorrente sempre em ação e chamada de Wilson pelo chefe liberal, aquele que “vê resultados, não pessoas”e - para surpresa de ninguém - tem Dane, o filho varão, como favorito na corrida sucessória.
Se o desejo é conhecer um homem de família realmente convertido por um acontecimento inesperado, reveja o longa homônimo estrelado por Nicolas Cage e dirigido por Brett Ratner.