Não sou um grande fã do cinema brasileiro, confesso. Mas assistir um filme como "Bingo - O Rei das Manhãs" foi um deleite, tanto visual quanto narrativo. O filme dirigido pelo estreante Daniel Rezende (Montador/editor de Cidade de Deus, Tropa de Elite, Robocop) é um espetáculo sem precedentes, uma produção que se equipara com "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite", os melhores filmes brasileiros até hoje. Em seu filme, Rezende busca inspiração na vida de Arlindo Barreto, o ator original que viveu o palhaço Bozo nas manhãs da década 80 no SBT. O diretor mascara os verdadeiros nomes dos personagens (com exceção de Gretchen), assim como dos canais de televisão como SBT (passou a ser TVP), Rede Globo (como Mundial) e Xuxa, que passou a se chamar de Lulu. Aqui Arlindo passa a ser chamado de Augusto, interpretado de forma frenética e estupenda por Vladimir Brichta (o papel da vida dele), um ator de pornochanchada que tem uma grande vontade de crescer no meio televisivo, e embalado pelos holofotes, vai em busca de uma oportunidade nos grandes canais de Tv da época. De forma quase sem querer, entra na fila do papel de um palhaço, que teria ali, seu próprio programa matinal. É impressionante como Brichta se entrega ao papel do palhaço traquina e fora dos padrões, mostrando um personagem com várias camadas, realmente seu personagem é 70% de inspiração e 30% de uísque e outras drogas. O cara é incontrolável na persona de Bingo. Não podemos esquecer a boa atuação de Leandra Leal (Lúcia) como a diretora/produtora evangélica do programa, ela passa o contraponto sério e ideal ao protagonista que é pura loucura. A abertura do filme de Rezende já mostra seu diferencial logo de cara, com uma abertura aos moldes de fitas de VHS. O longa é todo em forma de homenagem a nostalgia dos anos 80 (ano da loucura), onde a publicidade e os programas infantis eram permissivos, a tal ponto, de se colocar uma mulher seminua dançando "Conga, Conga, Conga". A trilha sonora do filme merece uma playlist no Spotify, cujo o tema seria "Os embalos dos anos 80", show! Mas o sucesso do filme deve muito a Rezende, desde seus enquadramentos, transições e montagem, assim como seu roteiro, escrito por Luiz Bolognesi. Cada plano detalhe com foco na maquiagem de Bingo ou cada cena que perpassa a comédia, o frenesi e o drama. Bingo - O Rei das Manhãs é um filme evocativo, engraçado nas horas certas e funciona muito bem como um drama, um dos melhores filmes brasileiros e o melhor filme nacional do ano, sem dúvida!