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    Os Guardiões
    Críticas AdoroCinema
    0,5
    Horrível
    Os Guardiões

    Paródia involuntária

    por Renato Hermsdorff

    É como se a Rússia entrasse numa espécie de “Guerra Fria” do mercado de cinema com 17 anos de atraso. Desde 2000, quando X-Men foi lançado, a arrecadação das bilheterias dos filmes de super-heróis cresceu em progressão geométrica. A ponto do subgênero (não é segredo), hoje hegemônico, se tornar o mais lucrativo entre todos. A esse período, já duradouro, acompanhou-se, também, em diferentes níveis, um aumento da sofisticação dos roteiros desse tipo de filme.

    No intuito de surfar essa onda - e faturar algum -, uma produtora do país europeu desenvolveu (ou comprou) um software para caprichar nos efeitos visuais. Mas se esqueceu do texto. E o resultado é Os Guardiões, uma espécie de versão russa para Os Vingadores (ou Quarteto Fantástico, não importa), que mais parece uma paródia de um filme de super-heróis do que uma produção do gênero, propriamente. Só que, depois de quase duas décadas de exposição a superpoderes na tela, o público não é mais inocente.

    “Então quer dizer que eu tenho 15 dias para percorrer toda a Rússia e montar um time de super-heróis para combater um supervilão?”, pergunta a agente responsável por unir o grupo. Para além da resposta óbvia, o caráter vago e genérico da frase da personagem resume bem a sinopse de Zashchitniki (no original).

    Dirigido por Sarik Andreasyan, o longa, que se passa, ironicamente, no contexto da Guerra Fria, conta a história de quatro cobaias que ganharam poderes extraordinários depois de passarem por experimentos genéticos e são reunidos para combater o cientista desertor que os criou (e agora quer dominar o mundo). É, você já viu esse filme.

    Alguém pode até argumentar que essa é a gênese de nove (dez?) entre dez super-heróis dos quadrinhos da Marvel-DC, que se trata do clássico conflito do bem vs. mal - e essa pessoa não estaria de todo errada. Mas não há qualquer contexto para o surgimento dos personagens, que são um somatório de todos os clichês do gênero, de modo que é impossível estabelecer alguma empatia. Na verdade, até há a tentativa. Mas o tiro sai pela culatra.

    Cada um dos quatro personagens centrais têm o seu “momento Kodak”, em que abrem o coraçãozinho para a oficial que os recruta - o que é uma estratégia do roteiro de tentar humanizá-los, claro. O resultado da combinação do texto artificial com as atuações sofríveis é o ridículo. Em alguns momentos, a agente chega a tirar os óculos escuros para mostrar o esforço da lágrima que ela tenta verter, enquanto a trilha, pesada e cafona, faz questão de sublinhar que se trata de um momento emotivo.

    Verdade seja dita, os efeitos especiais - o grande investimento do filme -, embora estejam longe de serem perfeitos, até convencem, ao se levar em conta que trata-se de uma produção de fora das colinas de Hollywood - uma cópia cara que tem até cenas pós-crédito. Mas com um texto infantil e uma narrativa que mais lembra uma novela mexicana, Os Guardiões é uma paródia involuntária que tem a cara de pau de se levar a sério demais. Do contrário, você vai rir como nunca.

    Tomara que os russos tenham, também, sua própria versão para o Framboesa de Ouro.

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