O texto abaixo possuí spoilers, não utilizei a ferramenta de spoilers para não prejudicar a resenha.
A busca por conhecimento na Idade Média obrigatoriamente passava pela ordem cristã - especificamente pela Igreja Católica. Detentora de muitos livros, a instituição decidia a quais obras os monges teriam acesso e, dessa forma, ocultava aquelas que poderiam contrariar dogmas ou incentivá-los a buscar outras soluções racionais, já que, dessa forma, os religiosos poderiam deixar a fé em segundo plano. Parte desses “livros proibidos” se encontrava em bibliotecas secretas a que apenas um grupo seleto de monges (geralmente tradutores, ilustradores e pensadores) teria acesso para passar os textos do grego para o idioma da região. Alguns desses monges viviam enclausurados em monastérios, fazendo com que o conteúdo desses livros ficasse restrito à sua experiência pessoal e à igreja católica.
Caso alguém ousasse romper essa regra de acesso ao “conteúdo proibido”, o resultado poderia ser a morte. É nesse ambiente da Idade Média que se passa a história escrita por Umberto Eco e levada ao cinema pelo diretor Jean-Jacques Annaud, que retrata uma série de mortes - em um primeiro momento, sem explicações - que assombram um mosteiro na Itália. Mosteiro esse, como dito pelo personagem Adson, cujo nome é convenientemente omitido.
O personagem principal é William de Bakersville, interpretado por Sean Connery. William é um monge franciscano estudioso que busca solucionar com fatos racionais acontecimentos que muitas vezes são atribuídos a eventos sobrenaturais, geralmente manifestações demoníacas. Ele tem como aprendiz Adson von Melk (Christian Slater), um jovem que tem seu preparo e educação confiados a William.
O filme, de 1986, utiliza de uma simples interpretação de signos para tornar o personagem de Sean Connery um perspicaz detetive, lembrando seus tempos de agente especial em outras películas, porém, com a castidade de um monge.
Quando a dupla chega ao monastério, a primeira morte já havia ocorrido. O monge ilustrador Adelmo de Otranto tem seu corpo encontrado ao pé de uma torre, destroçado pela provável queda da janela mais alta. Ao encontrar pegadas, algumas claramente mais fundas que outras, já se conclui que não se tratava de uma pessoa mais pesada, como havia sido sugerido por seu pupilo, mas sim de alguém que estaria carregando um corpo em suas costas.
O suspense que é criado em torno de alguns personagens entrega facilmente o que acontecerá durante as duas horas de filme. Isso fica claro minutos antes da segunda morte, com uma tomada fechada em um personagem que até então não havia aparecido - o tradutor negro Venâncio de Salvamec. Em seguida, ele é encontrado morto no chiqueiro. E isso acontece com todos os personagens-chaves da história. Durante a autópsia de Venâncio, William percebe que a ponta do indicador direito do morto está preta; acha estranho, mas segue com suas investigações para entender como as mortes estão acontecendo.
Um ponto que foge da sistemática do filme e pode passar despercebido é uma discussão que William tem com o monge cego, Jorge de Burgos, referente a senso de humor e risadas. Na opinião do monge, risadas são inadmissíveis para monges já que o ato de rir, além de ser um uma heresia, causa deformidade no rosto da pessoa deixando-o semelhante ao de um macaco. William retruca com seus argumentos, alguns religiosos e outros nem tanto, mas mostra subordinação quando o monge mais velho coloca um ponto final no debate. Esta é a única cena que aponta para o verdadeiro assassino.
Após a discussão, uma biblioteca secreta é encontrada pela dupla de investigadores. Nela, são encontrados vários livros que deixam William encantado com a oportunidade de colocar a mão em obras únicas - algumas dadas como perdidas. Agora, restava entender como as mortes estavam ligadas àquela biblioteca secreta.
A terceira morte é a do assistente bibliotecário Berengário de Arudel. Encontrado morto em uma das banheiras, com o corpo coberto por plantas medicinais usadas para aliviar dores, ele tem a língua e a ponta do indicador da mão esquerda negras. Este é o signo final para William, o principal de toda a história, para que ele tenha certeza de que as mortes estão relacionadas à biblioteca a que poucos tinham acesso. Era necessário descobrir como chegar até ela, para que todo o mistério pudesse, enfim, ter uma explicação.
Graças às provas colhidas e a suas andanças pelo prédio, William e seu pupilo encontraram a tal biblioteca repleta de livros que poderiam ameaçar a igreja e ir contra o que era pregado por Jorge de Burgos, o monge que não gostava de risos. Ele, então, entende que as pessoas morriam ao folhear um livro, já que, na época, era comum levar o dedo à língua para facilitar a virada de páginas e, consequentemente, sujar-se de tinta preta. Porém, faltava ainda descobrir qual livro era esse e o que havia em seu conteúdo para entender o motivo de tantos assassinatos.
O monge que realizava as autópsias, Severino, avisa William que encontrou um livro em sua sala, atrás de um dos vasos. Ao chegar à sala de Severino, William o encontra morto, mas, ao recolher a luva que o monge usava, entende a mensagem que ele deseja transmitir. No dia seguinte, o monge bibliotecário Malaquias de Hidelsheim caí morto durante um culto no monastério. Rapidamente, a dupla corre para a biblioteca secreta e encontra o cego Jorge de Burgos, sentado com um livro em suas mãos. Jorge explica a William que esse é o livro proibido, II Livro da Poética de Aristóteles, que tratava do riso, assunto claramente odiado por Burgos, que considerava o riso uma afronta à fé.
William folheia o livro, a pedido do velho monge cego, mas, obviamente, não morre, por estar usando a luva deixada por Severino. Quando Jorge de Burgos percebe que William não se envenenará com a tinta das páginas do livro, toma-o e corre com ele pela biblioteca. Nessa fuga, tromba com o noviço Adso que acaba, acidentalmente, jogando seu lampião contra os outros livros. No incêndio da biblioteca, Jorge de Burgos morre envenenado antes de ser tomado pela chamas, já que havia comido as páginas com o objetivo de acabar com o livro e sua menção ao riso. William consegue escapar do incêndio, seguindo os ratos, que são outro signo da história - já que, em um primeiro momento, ele havia os utilizado para chegar até a biblioteca e depois os seguiu para sair, assim como no incêndio. Levou consigo a maior quantidade de livros que pôde na tentativa de salvar o conhecimento que tanto lhe era prazeroso.
A atuação de Sean Connery não é espetacular, mas cumpre a proposta do personagem, assim como a de Christian Slater, que faz bem o papel de apoio ao seu perspicaz mestre. Atuações de destaque ficam por conta de Feodor Chaliapin, como o velho cego Jorge de Burgos, e Ron Perlman, que viveu o perturbado e deformado monge Salvatore.
O filme é simples de ser entendido, sendo tendencioso ao transparecer que a história se baseia em tentações carnais, quando, na verdade, o assassino queria impedir o acesso a um conteúdo que julgava nocivo para a igreja católica.
A curiosidade fica por conta do nome do filme; pode parecer não ter relação com a história, mas a rosa, na Idade Média, era sinônimo de conhecimento, logo pode-se traçar o um paralelo entre a flor e o livro que tinha seu acesso proibido.