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    Bad Boys: Até o Fim
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Bad Boys: Até o Fim

    Will Smith retoma franquia dos anos 1990 após polêmica do Oscar com doses cavalares do mais puro entretenimento

    por Diego Souza Carlos

    Ver grandes astros retornando a papeis que os consagraram no cinema pode ser uma experiência agridoce, mas quando ela vem com propósito, ainda que seja pela simples e pura diversão, ela ganha um aspecto recompensador. Sabendo do risco de amargar uma das maiores franquias de suas carreiras, Will Smith e Martin Lawrence voltam a formar uma dupla imbatível de policiais em Bad Boys - Até o Fim.

    Nesta nova empreitada, depois do que parecia ter sido o encerramento da saga de comédia e ação em Bad Boys Para Sempre, os detetives mais famosos de Miami se tornam os fugitivos mais procurados da região e adjacências. A caça virou o caçador com direito a um prêmio pelas suas cabeças. Agora, Mike Lowrey (Smith) e Marcus Burnett (Lawrence) devem lutar contra todos até o fim para proteger a reputação do capitão Howard (Joe Pantoliano) e limpar seus nomes.

    Como fruto da boa recepção da crítica com o filme anterior, Adil El Arbi e Bilall Fallah retornam como diretores. Ambos trabalham com base no roteiro de Chris Bremner, outro nome do projeto lançado em 2020.

    Will Smith e Marcus Burnett ainda seguram a franquia?

    Sony Pictures

    Bad Boys sempre foi conhecido por misturar duas coisas das quais Will e Martin dominam muito bem: a comédia e a ação. Fica claro desde o primeiro segundo do novo projeto que ambos não perderam o ritmo e a química vista pelo menos três vezes ao longo das últimas décadas.

    Ritmados a partir de uma direção completamente frenética - e, acredite, há muitos momentos de tirar o fôlego -, os atores parecem estar em sintonia com seus personagens. No entanto, há algo diferente dessa vez: talvez por ser, de fato, o último projeto protagonizado pela dupla dentro desta franquia, ambos elevam a intensidade e o escracho de suas atuações diante da aventura megalomaníaca.

    Sony Pictures

    Essa escolha, que parece ter fornecido bastidores bem divertidos, permite que ambos consigam usufruir do já conhecido carisma para sustentar uma história exibida sob as batidas de reggaetons, traps e canções que evocam a noite efervescente de Miami.

    Além das frases de efeito e uma insistência nos aspectos mais lúdicos e surreais da trama, os dois também exploram camadas de drama de maneira eficiente - que convence o público e o envolve, mesmo que exista uma trilha de conveniências ao longo do caminho. Essa ideia é guiada pelo perigo da morte não apenas por capangas de um cartel ou traficantes de drogas, mas pelos efeitos naturais do inevitável envelhecimento dos protagonistas.

    Direção caleidoscópica

    Sony Pictures

    Depois de um período complexo em suas carreiras, Adil El Arbi e Bilall Fallah estão de volta com o entusiasmo característico de seus trabalhos anteriores. A dupla de diretores de Ms. Marvel e Rebel foi pega de surpresa pela Warner Bros. após o cancelamento de Batgirl, filme que estava praticamente pronto. Bad Boys 4 parece representar a retomada dos promissores diretores responsáveis por grandes peças no audiovisual.

    Com o trabalho anterior na franquia aprovado, os cineastas tiveram mais liberdade criativa em expandir o estilo frenético visto em outros trabalhos. Abusando de cores vibrantes e uma direção que acompanha os protagonistas de perto, com poucas pausas, eles oferecem o melhor e o “pior” da atração: há estilo e tentativas de trazer um visual caleidoscópico à trama, mas o excesso de informações, a velocidade das câmeras diante das sequências de ação e as mudanças drásticas de tom entregam uma experiência tão emocionante quanto cansativa.

    Embora todos esses elementos conjuntos representem um filme exagerado e, por muitas vezes, excessivamente agitado, é curioso ver como essa vontade de explorar cada momento de ação com diferentes signos do cinema e de fora dele podem contagiar a audiência de maneira positiva. Os realizadores, inclusive, fazem um excelente uso das ambientações. Transformam cenários comuns com gracejos, ora simples, ora sofisticados para explorar outros ângulos de movimentações consideradas repetitivas por quem é consumidor ávido do gênero.

    Ação de tirar o fôlego mesmo!

    Sony Pictures

    Há, por exemplo, uma chuva de doces em câmera lenta que abusa da comicidade de Lawrence sem esquecer do tiroteio que se segue na tela. Outro momento que deve ficar marcado na retina dos fãs é, no ato final, ver a câmera assumir uma característica gamificada - Will Smith segue com a arma na mão e a perspectiva do espectador se torna a do próprio personagem, oferecendo uma visão em primeira pessoa característica dos videogames.

    Um casamento certeiro entre diretores e atores, o quarto capítulo da franquia não apenas oferece refrescos à saga como também funciona como alguns thrillers de ação dos anos 1990 e 2000. A estrutura semelhante à época pode não agradar parte da audiência que busca apenas por inovações, mas entrega toda galhofa que moldou filmes do período. Quem fica de fora da festa por alguns momentos é o roteiro. Efetivo, porém previsível, ele ousa apenas em questionar o conceito de justiça quando a família está na mira.

    Isso não quer dizer, no entanto, que os diretores consigam alcançar boas execuções durante todo o projeto. Em um esforço hiperbólico para desdobrar a ação de forma constante, com direito a elementos metalinguísticos em uma curiosa cena de observação, o longa também parece levar a sério demais o conceito de “tirar o fôlego”.

    Até o Fim?

    Sony Pictures

    Algo que deve mexer com o emocional do público é a discussão sobre paternidade e mortalidade. Embora privilegie o entretenimento à qualquer profundidade dramática, Bad Boys: Até o Fim demonstra que os agentes não são imunes aos efeitos de suas perigosas atividades. Estar diante da morte tantas vezes, enfim, cobra um preço na vida de ambos. Este aspecto é um contraste interessante para uma história cheia de liberdades criativas que tiram qualquer lógica do jogo.

    Colocadas de maneira bem-humorada na maioria das ocasiões, essas questões são interligadas através dos coadjuvantes da trama: os familiares e os demais detetives que se envolvem na investigação sobre o capitão Howard interagem, na maioria das vezes, de maneira efetiva ao avanço da trama. Estes, inclusive, podem representar uma extensão da franquia em algum ponto futuro, mesmo que não tenham força o suficiente para estarem no lugar de Smith e Lawrence.

    Ao fim, após uma jornada que coloca nossos heróis no “Jurassic Park caipira”, o novo Bad Boys pode oferecer o prêmio que a pandemia roubou dos atores e realizadores do filme anterior. Aqui, o trabalho de Fallah e El Arbi é responsável por atualizar uma franquia que já atingiu a maioridade há muito tempo, utilizando o melhor de grandes astros como Smith e Lawrence, mas não se apoiando apenas no carisma da dupla.

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