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    11 Minutos
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    11 Minutos

    A imagem e o personagem

    por Bruno Carmelo

    Existe algo muito interessante em 11 Minutos. O drama polonês intercala a vida de diversas pessoas ao longo de onze minutos, até o momento em que os anônimos se encontram. O recuso não é novo, mas o cruzamento de trajetórias distintas costuma render obras que chamam mais atenção ao roteiro do que às imagens. Filmes como Crash – No Limite, Babel e Coisas que Você Pode Dizer Só de Olhar Para Ela foram rotulados como exercícios maliciosos de escritura. No entanto, o diretor Jerzy Skolimowski pretende fugir à armadilha, construindo acima de tudo um filme de belas imagens.

    As imagens belas existem, à exaustão. Cada pequena história ganha uma estética própria: a trama do motoqueiro viciado em cocaína é filmada como uma viagem de drogas, a garota passeando com o cachorro é vista pelos olhos do animal, a entrevista entre um cineasta poderoso e uma atriz é filmada com tons perfeitamente nítidos e publicitários. Percebe-se o domínio na variedade de registros – mesmo o fatídico found footage, com imagens supostamente amadoras, é utilizado de modo mais complexo do que na grande maioria das produções do gênero.

    Ironicamente, com tamanha dedicação estética, 11 Minutos ignora a construção do roteiro. As histórias são simplórias, com personagens superficiais e estereotipados, que não ganham oportunidade de se desenvolver. É difícil se importar com qualquer um deles, já que estão presentes acima de tudo para justificar um enquadramento preciso, uma fotografia rebuscada. Assim, Skolimowski trabalha com tipos: a loira fútil, o homem rico e arrogante, a garota punk, o pequeno delinquente, o pintor. A montagem paralela combina cada episódio em ritmo frenético.

    A trama deixa para a conclusão o esperado encontro entre as histórias. Recorre-se a modos muito diferentes de união: alguns deles são banais (duas pessoas que não se conhecem atravessam a rua ao mesmo tempo), mas outros possuem real interesse cinematográfico, como o símbolo misterioso do ponto preto. Este ponto no céu transforma-se tanto na unidade imagética do cinema digital (o pixel) quando na unidade do cinema análogo (o quadro na película). Trata-se do único aspecto que efetivamente compara as histórias: o tempo e o espaço que ocupam, ou seja, sua representação. Todos são imagem, e pouco mais do que isso.

    11 Minutos é uma obra ousada em termos de estrutura e de som, mas possui uma embalagem sofisticada demais para o conteúdo tão trivial. A conclusão representa o ápice desta proposta: Skolimowski abraça a máxima beleza possível, abusando de câmeras lentas e efeitos especiais, atingindo o registro semelhante ao de uma propaganda luxuosa de perfume. Quem se importa com o chocante acontecimento em tela quando a personagem envolvida está se movendo tão belamente, em câmera lenta, com os cabelos ao vento?

    Filme visto no Festival do Rio, em outubro de 2015.

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