O filme apresenta uma narrativa coesa, que se constrói nos pequenos acontecimentos, nos detalhes sutis, beirando o misticismo. O mistério vai se desvelando e o oculto vai se intensificando conforme vai chegando o final. O filme é construído em partes na qual formam uma história com começo, meio e fim, bem amarrada. Acredito fielmente que a versão com as cenas do diretor, mais longa, terá ainda mais a construção dos personagens.
O filme é assustador, a ambientação é macabra e sombria. Os personagens cumprem bem suas funções, as emoções de angústia, medo, confusão, raiva e terror estão a flor da pele, as atuações são bem boas. As sombras, a temática escura e o simbolismo presente nas cenas entram em contato com nossa linguagem inconsciente. A linguagem do ocultismo é respeitada, os rituais e as intenções refletem a realidade. A ficção não ultrapassa seus limites (claro tudo depende do quão cético você é, mas bem que foi dito que a ciência mais nos cega do que ilumina...)
As cenas comunicam, todas estão nos dizendo algo. Isso vai além mesmo da narrativa, como se aquela fosse vivenciado em maior ou menor grau com nossas sombras, nossos medos, o desconhecido. Isso é tão nítido que após uma cena intensa, os personagens param e comentam sobre o que sabem. O quebra cabeça é construído ao mesmo tempo que o filme quebra nossa cabeça com a transmissão do horror nas cenas.
O ritmo do filme vivo, aliás, morto. Ainda melhor, macabro. A vida e a morte são invertidas, são colocadas como a mesma moeda na qual a intenção dos personagens não jogam a sorte, mas controlam ou se rendem ao destino. Típico de um romance o amor sobressair diante dos afetos e desafetos e aqui não é diferente, mas a música é uma trilha advinda dos cemitérios, das catacumbas, dos ratos, dos cemitérios, do sangue e das ruínas. Isso não é sobre trilha sonora, mas ritmo. Observação, o filme não é lento, você que está acostumado demais com filme excessivamente estimulantes...
Nessa paixão sufocante contada em um livro velho em letras e símbolos estranhos, transmite muito bem para aqueles que abrirem para compreender a intensidade do sutil, da magia. O que foi muito bem expressa no filme anterior do diretor. A mensagem impacta intensamente a alma, reflete o que escondemos. É dito no filme que precisamos aceitar o mal para depois enfrentá-lo e acredito que é sobre isso. Esse é um filme de símbolos, essa é a linguagem, se você ler, vai entender, vai obter o conhecimento.
Esse conhecimento não é racional, é símbolico, é estético. A estética do filme afeta de uma maneira peculiar. Não podemos fugir das monstruosidades, daquilo que está à na escuridão do Humano. Não é sobre tomar um susto, é sobre ficar mergulhado no horror e conhecer essa besta de perto. O filme nos faz conhecer plenamente Nosferatu e como sua vontade e intenções afetam a realidade. Nosferatu simboliza tudo aquilo que não conseguimos integrar e iluminar, nossas sombras profundas. O filme conversa diretamente com isso em nós. Mas não é de toda desesperança, pois também retrata a maior beleza do Amor, que todo veneno por mais poderoso que seja, se dissolve na pureza do Amor.
Por fim, todas as cenas que tem gatos, as sombras estão iluminadas.