Aula de filosofia
por Bruno CarmeloEste documentário brasileiro se dedica a um tema tão apaixonante quanto amplo: o tempo. A questão poderia ser abordada por diversos ângulos, mas a diretora Adriana L. Dutra e o co-diretor Walter Carvalho preferem analisar o tempo pelo ponto de vista da pesquisa acadêmica. Assim, grandes filósofos, sociólogos e historiadores discorrem sobre a definição de tempo, as possibilidades de medi-lo, sua transformação social e econômica, sua influência na tecnologia e na própria definição de ser humano.
Pela riqueza da abordagem, o filme funciona como uma aula complexa e bem documentada, de ritmo agradável e sucinto. Como forma de cinema, no entanto, o alcance da produção é modesto. Estamos diante de uma estrutura de talking heads, extremamente dependente dos depoimentos. Os convidados discorrem sobre seus temas de predileção diante de bibliotecas, quadros negros e estantes de livros – símbolos evidentes de erudição – enquanto transpiram sob a luz quente dos refletores. É curioso que a produção não tenha buscado uma estrutura mais original ou orgânica para as conversas.
Quando não submete a imagem ao som, Quanto Tempo o Tempo Tem busca suas próprias construções para refletir a passagem do tempo. Esta deveria ser a parte mais instigante do documentário: a busca de uma representação imagética para um elemento tão abstrato quanto o tempo. Afinal, o próprio cinema é a animação de imagens estáticas... Dutra, infelizmente, recorre ao imaginário mais gasto sobre o assunto, com cenas de carros acelerados nas autoestradas das metrópoles, pessoas saindo de estações de metrô, nuvens atravessando o céu. A trilha sonora é outro clichê, com direito a batidas de música eletrônica para imprimir ritmo.
É uma pena que o documentário não se dê ao trabalho de refletir sobre o tempo em termos imagéticos. Filmes de conceitos simples com Sem Sol, de Chris Marker, ou o curta-metragem Entre Imagens – Intervalos, de André Fratti Costa e Reinaldo Cordenuto, fornecem alternativas mais criativas para a contradição de ilustrar algo teoricamente invisível. Do jeito como é exposta, a forma do documentário rebaixa-se ao conteúdo. As cenas, mesmo complexas, são limitadas pelo discurso.
A conclusão, narrada pela própria diretora, beira a banalidade. “O mundo continua acelerado”, ela diz. Mas Quanto Tempo o Tempo Tem passa por temas e questões muito mais interessantes do que a simples constatação de um mundo veloz. O projeto iniciado em 2011 e exibido nos cinemas em 2016 tem que ser valorizado pela ambição intelectual profunda e por não rebaixar o nível da discussão para o espectador médio. Faltava o mesmo interesse, no entanto, pela própria linguagem cinematográfica.