Misticismo salvador
por Bruno CarmeloÀ primeira vista, este documentário apresenta exatamente o que seu título promete: um retrato da vida do professor Hermógenes, um dos principais teóricos do yoga no Brasil, autor de livros consagrados e figura respeitada no meio espiritual. Apoiando-se na linguagem mais elementar do documentário (depoimentos + imagens de arquivo, incluindo vídeos de viagens e gravações de pessoas praticando yoga), o documentário busca ser, em primeiro lugar, informativo. Em segundo lugar, visa a sensibilização e eventual conversão à filosofia do yoga.
Neste aspecto, o projeto começa a derrapar. Tanto Hermógenes quanto o yoga são tratados em termos superlativos: ele foi um homem forte, pioneiro, corajoso, bondoso, bem-humorado, que lutou contra uma doença grave sem perder o sorriso no rosto. A yoga surge como prática revolucionária, indispensável para a saúde física e mental. As imagens são simples, às vezes excessivamente iluminadas – como convém às representações de elementos místicos – e editadas de modo burocrático.
O grande problema do projeto já era, de certo modo, previsível. Produzido por amantes do yoga, em colaboração com o Instituto Hermógenes, o documentário é incapaz de tomar o mínimo de distanciamento em relação ao seu objeto de estudo. Falam às câmeras apenas as pessoas que tiveram grandes experiências de vida com ele. Testemunham sobre o yoga unicamente indivíduos para quem esta prática significou uma transformação radical e benéfica. O filme assume seu lado panfletário, institucional, explicando de maneira didática os benefícios desta filosofia e a importância central de Hermógenes neste processo.
Algumas questões contextuais são deixadas de lado: Como foi a passagem deste homem pelo exército? Ele já manifestava este pensamento dentro da estrutura nada transcendental dos militares? Como construiu a fortuna necessária para fazer tantas viagens, abrir as escolas e financiar este modo de vida? Qual foi a dificuldade de aceitação do yoga no Brasil? Julgando pelo documentário, tem-se a impressão de que qualquer contato com este universo implica uma conversão imediata e iluminadora, sem exceções. Um único entrevistado, um professor de yoga na USP, decide abordar a filosofia por um aspecto social e racional, mas sua voz é abafada pelo discurso otimista da obra.
Incomoda igualmente a chantagem emocional promovida pela diretora Bárbara Tavares. Algumas pessoas em situações extremas – vítimas de doenças ou acidentes graves – relatam como as suas vidas foram transformadas pelo yoga. Neste momento, uma música melosa toma conta das cenas e a montagem atarda-se na lágrima escorrendo pelo rosto de Jackson Antunes. Aos poucos, abandona-se a informação para abraçar a pregação de estilo religioso, algo possível graças à ilustração de Hermógenes como um messias humilde e culto.
Hermógenes - Professor e Poeta do Yoga pode trazer informações novas àqueles que não conhecem os fundamentos desta doutrina, mas provavelmente pregará para convertidos, atraindo espectadores que já manifestam interesse pelo yoga. Estas pessoas assistirão a um documentário cheio de boas intenções, mas de uma ingenuidade cinematográfica lamentável. Para completar os embaraços, trata-se de uma produção longa demais: 104 minutos são excessivos para um documentário dotado de uma única mensagem e um único ponto de vista.