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    Não é Um Filme Caseiro
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Não é Um Filme Caseiro

    Alguns dias com minha mãe

    por Bruno Carmelo

    Diz a sinopse oficial que Não é um Filme Caseiro aborda a relação da cineasta Chantal Akerman com sua mãe idosa, enquanto as duas debatem “gênero, sexo, identidade cultural, tédio, solidão e manias”. A ideia do conflito de gerações e do possível debate histórico é interessante, entretanto, poucos destes elementos estão realmente presentes em tela.

    Com uma pequena câmera caseira, com iluminação e trabalho de som assumidamente precários, a diretora retrata os dias comuns de sua mãe pela casa. Akerman, que mora nos Estados Unidos, faz visitas esparsas, permanecendo poucos dias com ela. A filmagem ocorre de modo quase escondido, geralmente no cômodo ao lado, ou com a câmera posicionada em algum móvel distante. A diretora espreita a mãe como que observa um animal imprevisível em seu habitat natural, com um respeito solene e frio.

    As conversas entre as duas, pelo menos, revelam a proximidade. Em jantares e almoços, a diretora faz o que pode para extrair da mãe comentários sobre sua fuga de Auschwitz, a imigração da Polônia para a Bélgica, as lembranças do pai falecido. Tem sucesso modesto, obtendo poucas frases relevantes. No final, quem mais fala e compartilha informações ao espectador é a própria Akerman, em suas perguntas feitas para induzir respostas precisas.

    Se o aspecto informativo do documentário é deficiente, ele ao menos faz um retrato terno do amor entre as filhas (a diretora e sua irmã) e a mulher idosa, que faleceu pouco após o filme. É visível o esforço em mantê-la ativa, acordada, relembrando de histórias passadas como para colocar o cérebro em atividade permanente. A degradação física e mental da mãe ao longo das viagens é comovente, embora constitua um aspecto secundário de Não é um Filme Caseiro.

    Para completar as passagens familiares, Akerman inclui longas imagens de paisagens desérticas, com cerca de cinco minutos de duração cada. Estes trechos incomodam pela imobilidade e ausência de conflito, mas provocam uma reflexão sobre a passagem do tempo, verdadeiro tema deste trabalho. A dilatação do tempo e as horas mortas servem tanto para o galho balançando longamente, na primeira imagem do filme, quanto para a mãe morrendo diante dos olhos da câmera. Esta não é uma experiência muito prazerosa, mas o filme traz suas recompensas para os espectadores mais pacientes.

    Filme visto no Festival do Rio, em outubro de 2015.

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