A nova animação do Batman começa com... a Batgirl. Foi preciso adicionar história, pois só a HQ A Piada Mortal seria muito curta para preencher a metragem do longa. Com Sam Liu – que já concebeu outras animações da DC – na direção, e o prestigiado argumentista de HQs Brian Azzarello a cargo do roteiro adaptado e ‘esticado’, acompanhamos, portanto, logo de início, uma outra trama que, embora seja interessante, nada tem a ver com a HQ, funcionando mais como um extenso prólogo. A narração em off da Batgirl até brinca com isso: “Sei que este não é o começo que vocês gostariam de ver!” É nesse primeiro ato que se encontra a polêmica mudança no foco que foi dado à relação entre Bárbara Gordon e o Batman, no qual ela narra seu envolvimento em um caso, e seu ‘caso’ com o sempre sisudo morcegão, com direito até a CENA DE SEXO! Vale lembrar que a classificação indicativa foi p/ maiores de 17 anos, justificada também por algumas cenas tão ou até mais violentas que as da obra original.
Só no segundo ato, portanto, é que a Piada Mortal da HQ escrita por Alan Moore começa a ser transcrita para a tela, o que escancara a impressão de estarmos vendo dois episódios completamente distintos um do outro, no mesmo filme. Quanto à adaptação da clássica história em quadrinhos, ela é extremamente fiel, com diálogos idênticos, e com direito até ao número musical do Coringa (!!!), embora esse trecho, ao ser visto e, principalmente, ouvido, inevitavelmente destoe do restante da narrativa, porém sem comprometê-la. Vemos, pois, os dramáticos flashbacks (dignos de profundas análises psicanalíticas) que contam a origem do vilão, em paralelo com o presente, no qual Bárbara, que largou a vida de Batgirl, e seu tio, o Comissário Gordon, são vitimados pelo Palhaço do Crime que, mais psicótico do que nunca, quer provar ao Homem Morcego que qualquer um pode enlouquecer, bastando para isso apenas um dia muito, muito ruim...
O traço visto na tela é uma variação do Animated Series, como é de costume nas animações da DC, mas desta vez busca inspiração também no estilo de Brian Bolland, o ilustrador da icônica HQ de 1988. Aquele humor ácido e sarcástico que sempre marca presença no universo do morcegão também se faz notar: "Vou contar até dez: um, nove..." Mark Hamill, como de costume, fez uma excelente e insana dublagem do Coringa, ao passo que Kevin Conroy, o também tradicional dublador do Batman, força mais do que o necessário para tornar a voz do herói grave e amarga, lembrando raríssimos casos em que a dublagem tupiniquim supera a original, como sempre acontece quando Márcio Seixas, um dos maiores locutores e dubladores do Brasil, empresta sua voz naturalmente ameaçadora ao Cavaleiro das Trevas nas versões brasileiras das animações da DC.
Se há um defeito no longa, que não é tão longa assim, só 73 minutos, é que, se o espectador conhece a famosíssima HQ da qual foi adaptado, o filme se torna tão previsível quanto as gotas de chuva molharem o chão quando caem. E a grande maioria do seu público conhece. O desfecho, com isso, perde muito do seu potencial dramático. O filme, contudo, faz a sua parte.
Após o intenso duelo psicológico travado no terceiro ato entre esses dois eternos rivais, a sugestão mostrada na HQ de que Batman estrangula o Coringa é fielmente reproduzida aqui, com o acréscimo do som, obviamente, que acentua as risadas dos dois em sincronismo, até certo ponto, quando resta apenas um a rir...
Contrariando o padrão DC, este filme TRAZ UMA CENA PÓS-CRÉDITOS, na qual o arco iniciado com a Batgirl tem seu fechamento. Batman - A Piada Mortal pode não ser espetacular, mas é mais um ótimo longa-metragem de animação da Warner/DC, do qual podemos concluir que quem ri por último, é porque ainda está vivo!