1 livro e 143 filmes
por Francisco RussoMarcelo Masagão despontou no cinema no final da década de 1990, com o belo Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos. Já em seu longa de estreia ele demonstrava um apreço especial à montagem, unindo cenas aparentemente gratuitas de forma a dar-lhes algum sentido, seja ele narrativo, filosófico ou meramente emocional. Masagão jamais deixou este estilo, por mais que seus filmes posteriores apresentassem certas ousadias, nem sempre bem executadas. Seu trabalho mais recente, Ato, Atalho e Vento, pode ser considerado uma espécie de volta às origens.
Tendo por base o livro “O Mal-estar da Civilização”, do “fofo do Freud” (palavras do diretor), Masagão desenvolveu um ensaio de 75 minutos envolvendo a paixão pelo cinema. Nenhuma das sequências exibidas foi por ele dirigida, todas foram criadas por diretores das mais variadas épocas e países. Mais ainda: não há a intenção de apenas explorar filmes populares e conhecidos, o que torna o resultado uma investigação bem particular sobre a sétima arte. Por que este filme e tal cena em específico? O filme não entrega tal resposta, e na verdade ela não importa. Interessa é o estado de espírito, a sensação provocada ao assisti-lo. É daí que vem a magia do cinema de Masagão.
A proposta deste longa-metragem é apresentada logo na abertura, em um letreiro que remete a Guerra nas Estrelas pelo formato. É lá que o diretor explica a inspiração a partir de Freud, seu “consultor espiritual” (assim está nos créditos finais), bem como a vontade de investigar os “pequenos trechos que ficam acumulados em nossa memória afetiva”. A partir de então, surge uma sucessão de sequências, umas maiores e outras menores, que proporcionam uma verdadeira viagem ao mundo do cinema. Se para os cinéfilos há a diversão de tentar identificar o máximo possível de filmes (a lista completa está nos créditos finais, dividida por diretor), o que importa de fato é a impressão sensorial de tais imagens.
Além do árduo trabalho de edição, não apenas no sentido de separar cada imagem mas também de escolher a ordem de exibição de forma a dar ao filme alguma coerência estética, é primordial o trabalho da trilha sonora do quarteto Eduardo Queiroz, Guilherme Rios, Felipe Alexandre e Wilso Sukorski. É este trabalho em conjunto que faz de Ato, Atalho e Vento uma experiência gratificante, auxiliado também pelo fato de ser tão curto. A dosagem é exata diante da complexa proposta que oferece e, ainda assim, é preciso aceitá-la de antemão - caso contrário, o resultado pode ser bem decepcionante. Bom filme, que prende a atenção não apenas pelo exibido, mas principalmente pelo como é exibido.