Zanahoria: Crítica AdoroCinema

Coprodução entre Uruguai e Argentina, Zanahoria chega num momento político importante no Brasil, em que a Comissão da Verdade trabalha para analisar crimes e excessos durante da ditadura e dar para algumas famílias respostas dos paradeiros de milhares de desaparecidos. O Uruguai já passou por momento parecido e muitos dos debates foram os mesmos que aqui.

O filme gira em torno de dois jornalistas de um pequeno periódico de Montevidéu. Faltando poucos dias para a eleição presidencial, eles são procurados por uma fonte misteriosa que revela ser um ex-militar com muitas informações sobre o regime ditatorial, contando inclusive com vídeos de torturas. Os jornalistas, um veterano e um jovem, logo se interessam pelo caso e marcam um encontro.

A partir daí, eles se veem numa jornada perigosa, não podendo confiar em ninguém, nem mesmo os colegas e os familiares. A fonte se mostra detentora de muitas informações, mas parece também receber ordens de terceiros, o que torna toda a dinâmica mais misteriosa e sem solução.

Dirigido por Enrique Buchichio, o longa lembra bastante o clássico Todos os Homens do Presidente, de Alan J. Pakula. Trata-se de um thriller investigativo de ótima qualidade. O espectador é totalmente envolvido pela história e irá acompanhar a mesma até o final, quando irá se surpreender.

Presença constante em filmes brasileiros como Faroeste Caboclo e O Tempo e o Vento, César Troncoso vive Walter, o ex-militar que agora oferece informações aos jornalistas. Ele entrega uma atuação complexa e muito bem desenvolvida. Abel Tripaldi interpreta Alfredo, o veterano jornalista e não decepciona. Mas quem surpreende mesmo é o jovem Martín Rodríguez na pele de Jorge. O ator transmite perfeitamente o sentimento de inocência, sem ao mesmo tempo parecer ingênuo.

Filme visto no 43º Festival de Cinema de Gramado, em agosto de 2015.