Ao infinito e além
por Lucas SalgadoConhecida pelos trabalhos em filmes como Chocolat, Beau Travail e Minha Terra, África, a cultuada diretora francesa Claire Denis tem como seu mais novo trabalho uma ficção científica. High Life representa uma série de "primeiras vezes" para a cineasta. É a primeira fez que realiza um filme falado em inglês. E é também a primeira vez que tem um filme seu passado no espaço.
Se a diretora já havia surpreendido ao investir em uma comédia romântica (Deixe a Luz do Sol Entrar) em sua obra anterior, agora vai além nessa nova fase profissional. Aos 72 anos, Denis parece disposta a explorar gêneros cinematográficos. E quem ganha com isso é o público. E a sétima arte de forma geral.
Nos últimos tempos, ficções científicas espaciais sempre estiveram atreladas a grandes produções hollywoodianas, cujo interesse comercial é o foco principal, oferecendo muito pouca reflexão sobre a vida e o espaço. Nem sempre foi assim, é claro. 2001 - Uma Odisséia no Espaço e Solaris são dois clássicos exemplos do cinema de arte investindo em histórias espaciais. É claro que não cabe comparar o novo filme com qualquer um desses clássicos, mas é certo que Denis usa a metáfora espacial para refletir sobre humanidade e sociedade.
O filme gira em torno de um grupo de criminosos que aceita trocar suas penas pela participação em uma missão especial que estuda energias alternativas. Em meio à missão, no entanto, muita coisa acontece e, aos poucos, o número de tripulantes na empreitada vai diminuindo. Com a exceção de uma bebê, que nasce durante a viagem espacial.
O elenco conta com nomes como Robert Pattinson, Juliette Binoche, André Benjamin e Mia Goth (neta da atriz brasileira Maria Gladys). Binoche interpreta a personagem mais complexa da trama e arrasa como de costume, oferecendo momentos delicados e outros quase insanos.
Já Pattinson mostra mais uma vez que temos que parar de chamá-lo de "ator de Crepúsculo". Felizmente, para ele, os dias de Twilight ficaram para trás. O ator, que já havia brilhado em
Bom Comportamento, volta a entregar uma performance repleta de camadas. E sempre envolvente.
Escrito por Denis, Jean-Pol Fargeau e Geoff Cox, o roteiro tem momentos perturbadores. E outros fofos. É acima de tudo uma experiência. E o público parece ser o objeto de estudo, pois parece claro que o filme irá atingir cada pessoa de forma particular.
High Life é sexy, estranho e quase sempre fascinante. Também é um pouco tedioso com seus 110 minutos de duração, mas nunca deixa de prender a atenção do espectador. Denis prova mais uma vez que ainda tem muito a dizer e muitos caminhos a explorar. É impossível não ficar curioso com o caminho que vai tomar a seguir.
Filme visto durante o Festival de Toronto, em setembro de 2018