Ação e consequência
por Lucas SalgadoAntes de embarcar em uma análise mais detalhada do filme, há de se comentar a tentativa de se vender a obra como algo que ela não é, especialmente no Brasil. Em Busca de Vingança foi o título escolhido para lançar o longa no país. E não poderia estar mais distante da essência da obra e da intenção dos realizadores. Aftermath (no original) pode ser traduzido livremente como "consequência" ou "resultado". Fica clara a tentativa de se jogar "vingança" no título apenas para somar à imagem de Arnold Schwarzenegger e passar a ideia de que se trata de mais uma ação estrelada pelo astro.
Quem for esperando um filme de ação insana com o ator de Comando para Matar irá, com certeza, se decepcionar, pois isso está bem longe de ser a realidade. Estamos diante de um pai que perde a família e segue em busca de respostas, de um pedido de desculpas, não de vingança.
Na trama, Schwarzenegger vive Roman, um trabalhador dedicado que batalha dia a dia em construções para dar uma vida honesta para a família. Perto do final de ano, ele vai ao aeroporto buscar a esposa, que está chegando de viagem com a filha do casal, que está grávida. Ao procurar informações sobre o voo, ele é informado que o avião sofreu um acidente e que dificilmente haveriam sobreviventes.
Numa outra frente, o filme acompanha a história do controlador de voo Jake (Scoot McNairy), que estava na torre do aeroporto controlando o tráfego aéreo no momento do acidente. Com esposa (Maggie Grace) e filho, ele luta para recomeçar a vida, mas tem muita dificuldade em lidar com o que ocorreu.
Obviamente, as histórias estão totalmente relacionadas e caminham para se encontrar. A premissa chega até a ser interessante, principalmente no desenrolar da narrativa. Em Busca de Vingança, no entanto, tem problemas sérios de execução, principalmente no que diz respeito à seleção do elenco. Schwarzenegger até se esforça, mas ele não tem o peso dramático para viver um personagem como este, muito silencioso, muito no limite. McNairy se sai um pouco melhor, mas também não muito.
Produzido pelo cultuado Darren Aronofsky, o filme surge de uma ideia interessante, mas parece não saber para onde ir. A presença do diretor de Cisne Negro e Mãe! na produção podia indicar uma tendência para o imprevisível, mas não é o que acontece.
Responsável pelo roteiro do bom O Homem Duplicado, Javier Gullón é o roteirista de Aftermath. Ele cria um ponto de partida interessante, mas não convence no desenvolvimento e na tentativa de uma reviravolta final. A direção de Elliott Lester também não ajuda, contando com problemas de ritmo.
Longe de ser profundo como gostaria, o filme conta com uma boa direção de fotografia de Pieter Vermeer, que mantém um tom cinzento e frio que se encaixa bem dentro daquilo que vemos em cena.