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    O Caseiro
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    O Caseiro

    Suspense vs. terror

    por Bruno Carmelo

    Uma garotinha conversa com seres invisíveis, e apresenta diversos machucados pelo corpo. A família acredita que ela pode estar sendo perseguida pelo fantasma de um caseiro morto, mas o professor de psicologia Davi (Bruno Garcia) acredita em explicações mais simples, incluindo amigos imaginários e violência doméstica. A batalha entre essas duas interpretações marca O Caseiro, produção nacional eficiente quando explora o suspense psicológico, mas fraca quando se aventura pelo terror.

    O filme apresenta diversas qualidades que faltavam em nossa recente cinematografia de terror. A primeira delas é a adaptação à cultura nacional. A figura do caseiro, responsável por cuidar de um sítio de interior, serve para reanimar os conflitos sociais entre empregadores e empregados, casa grande e senzala. O roteiro sabe extrair tensão a partir de relações de poder, mesmo no interior da família principal, onde uma tia (Denise Weinberg) atua como uma espécie de empregada do irmão. O que acontece quando os subordinados decidem se rebelar?

    Outra vantagem do projeto é uma verdadeira preocupação de mise-en-scène de Júlio Santi. O jovem diretor aposta numa câmera fluida acompanhando as movimentações do personagem, o que permite explorar a casa onde se desenvolve a história e criar uma sensação de tempo contínuo, essencial para o desenvolvimento do suspense. Os movimentos de câmera são bruscos em algumas cenas, mas transparecem boas escolhas de construção imagética.

    É igualmente importante destacar a importância das sugestões, ao invés dos tradicionais clichês de terror. Durante dois terços da narrativa, não existem portas rangendo, sombras passando por trás dos protagonistas nem outras ferramentas fáceis do gênero. Quase todos os elementos causadores de medo, bem espalhados pela narrativa, podem ser interpretados tanto pela razão (a visão lógico-científica de Davi) quanto pela fé (a visão espiritual-religiosa da família), transformando O Caseiro num interessante embate do sincretismo cultural brasileiro.

    Essas qualidades conseguem superar os problemas do filme, que não são poucos. A trilha sonora de suspense exagera na frequência e no volume, em cenas que já seriam suficientemente assustadoras pelo bom trabalho de fotografia e direção de arte. Os diálogos também são mecânicos, artificiais, especialmente aqueles criados para as crianças. Bruno Garcia e Denise Weinberg até conseguem transformar as falas em algo relativamente natural, mas os demais atores parecem estar declamando falas excessivamente articuladas e distantes do registro oral.

    O terço final também prejudica bastante a experiência. É compreensível que o diretor busque um clímax intenso, mas as revelações súbitas tornam as motivações dos personagens inverossímeis e comprometem a coerência narrativa. Nesta parte de terror explícito, o poder da sugestão é abandonado em prol de um espetáculo rico em estímulos visuais, mas fraco em significados psicológicos. Mesmo assim, O Caseiro representa um projeto ambicioso dentro do mercado de cinema brasileiro, além de revelar um cineasta promissor.

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