É uma história que se trata de relações familiares. É uma narrativa bem desenvolvida, abordando um amor que une uma família desgastada e desestruturada pelo tempo e pela perda. Que proporciona uma boa exploração dos personagens, suas personalidades, suas fraquezas e suas forças. Até a entidade possui um desenvolvimento próprio e, apesar de parecer uma receita de improbabilidade com um toque de clichê, a sua história nos convence.
A adaptação do curta-metragem, realizado pelo mesmo diretor Sandberg, conta com vários outros elementos clichês de terror que estamos sempre acostumados a ver, fazendo com que inúmeras cenas se tornem previsíveis, como, por exemplo, os planos-detalhe para uma maçaneta girando ou o esconderijo secreto da entidade no porão. Ainda assim, o filme tem êxito em deixar você tenso e atrair sustos todas as vezes, pois desde o início já sabemos do que aquele monstro é capaz de fazer e a iminência de outro ataque nos aterroriza.
Isto se deve, com certeza, ao mérito da impressionante direção e da direção de fotografia, que elevaram as expectativas, sendo muito bem executados cinematograficamente. Vários recursos e ângulos diferentes foram usados para criar o medo e a tensão em tela. Dentre eles, podemos citar as cenas em ângulo inclinado que capturou perfeitamente o estado de perplexidade, medo, e confusão na mente da protagonista Rebecca; os ângulos plongée e contra-plongée utilizados respectivamente em planos e contra-planos sucessivos para dar impressão de que a entidade cresce assustadoramente e na mesma proporção em que a personagem diminui seu tamanho, demonstrando sua inferioridade e sua fraqueza perante a criatura. Ficou maravilhoso em tela.
Ainda, quando falamos do escuro e a exploração de todos os medos que ele nos desperta, é razoável exigir que a iluminação esteja à altura, até porque nós somos informados de que o espírito tem alta sensibilidade à luz, nunca aparecendo quando há luminosidade. E o filme não peca. A casa em que Martin habita com sua mãe Sophie tem uma característica sombria por si própria, graças à competente direção de arte. Ela é sempre mal iluminada, com pontos de completo breu. A diferença se torna ainda mais evidente, em uma cena em que os dois personagens se aproximam da casa após uma tarde de compras: o lado de fora é muito bem iluminado, um dia de sol tão brilhante que quase conseguimos sentir o calor; enquanto a parte das escadas até a entrada principal fica totalmente escura.
Neste longa o mesmo elemento desempenha outros papéis durante a narrativa. Por exemplo, para conseguir iluminar um ambiente, os personagens utilizam de todas as formas diferentes e improvisadas a seu alcance: é a lanterna do carro, a luz do celular, a luz negra, as velas (uma vela nunca brilhou tanto!), são lanternas pequenas, é o fogo, entre outros. É interessante ver esse jogo de luzes.
Por fim, damo-nos conta dos pequenos esconderijos – muito inteligentes - que a entidade arranja para aparecer. E quando aparece, o conjunto de reflexos dá a sua forma, o brilhar dos olhos e as sombras dão uma perfeita profundidade e, o que é mais incrível: junto à trilha de Benjamin Wallfisch somos apresentados a algo terrível que não conseguimos ver, e, por conseguinte, não temos controle. A imagem que é formada e os sons que são emitidos nos remetem a uma criatura animalesca, perigosa e escondida na completa escuridão.
Afinal, quem nunca teve medo do escuro?