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    Malévola - Dona do Mal
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Malévola - Dona do Mal

    Maior e pior

    por Francisco Russo

    Ao ser lançado em 2014, Malévola fez mais que dar início à onda de adaptações em live-action de clássicos da animação da Disney. A partir de uma hábil recriação, o foco principal migrou da princesa adormecida para a grande vilã da história, justificada em suas maldades em uma narrativa mais antenada com os tempos atuais, tanto em relação à representatividade quanto no posicionamento das mulheres em um mundo dominado por homens. Cinco anos depois, Dona do Mal se apropria dos mesmos ideais e personagens ao entregar uma aventura tão multicolorida e fantasiosa quanto a original, mas com um revés importante: sem a mesma coesão narrativa.

    Enquanto o primeiro Malévola tinha o cuidado de entregar uma protagonista que transitava entre a maldade e a afeição, nesta sequência tal proposta se esvai em nome do riso fácil. A personagem-título tão bem construída por Angelina Jolie aqui se presta a breves piadas que ressaltam sua desconexão com o mundo polido, representado especialmente pelo requinte da realeza encampada pela família do príncipe Phillip. Por mais que até funcione em certos momentos, apostar apenas em tal contraste minimiza bastante o potencial da personagem, diminuída em sua proposta original. E isso, na comparação entre os dois filmes, pesa bastante.

    Pesa também porque Dona do Mal traz um ar genérico que prejudica demais a narrativa como um todo. Apostando firme no deslumbre técnico em uma edição pra lá de didática, o diretor Joachim Ronning entrega um filme que até amplia o leque de opções em relação ao original, mas sem manter a mesma unidade. Desta forma, ao mesmo tempo em que o espectador tem a chance de conhecer um pouco sobre as origens de Malévola - em belos cenários, inspirados em ninhos -, há também um punhado de seres mágicos dos Moors que não têm a menor função na trama, além de sua fofura intrínseca. A própria narração em off que abre o longa-metragem entrega uma justificativa bem preguiçosa sobre o porquê de Malévola voltar a ser temida por todos, sem o menor esforço em desenvolver a elipse de tempo existente entre os dois longa-metragens.

    Soma-se a tais questões a postura irritantemente ingênua do casal formado por Aurora e Phillip, interpretados pela dupla Elle Fanning e Harris Dickinson, bastante conveniente diante dos (escancarados) planos maléficos da rainha Ingrith (Michelle Pfeiffer, destilando vilania), e ainda o desperdício de Chiwetel Ejiofor em um personagem raso e unidimensional. Se Malévola - Dona do Mal é um filme que intencionalmente opta por personagens femininas fortes, salta também aos olhos o desleixo com o qual trata todos os homens da trama, alguns até mesmo dispensáveis dentro da narrativa. Efeito colateral do gigantismo que tão mal faz a esta sequência.

    O maior reflexo desta ânsia em entregar mais, sem necessariamente ser melhor, surge no terceiro ato: uma longuíssima e insípida batalha campal se estende por variados personagens e situações sem jamais envolver de fato o espectador, servindo meramente como exibicionismo dos efeitos especiais em chroma key. Inclusive, tal assepsia norteia Dona do Mal desde o início, dos voos rasantes de sua protagonista que soam belos e vazios até o burocrático (e previsível) desfecho.

    Em meio a tantos problemas, o que consegue ainda segurar o longa-metragem é seu elenco. Por mais que sua Malévola tenha perdido a boa construção do original, Angelina Jolie é competente o suficiente para driblar tais problemas conceituais e entregar uma atuação convincente. Mesmo Chiwetel Ejiofor, de tempo em cena tão limitado, consegue transmitir ternura através do olhar, essencial para as características de seu personagem. E há Michelle Pfeiffer roubando a cena sempre que aparece, por mais que interprete uma vilã um tanto quanto caricata em um roteiro bastante simplório.

    No fim das contas, Malévola - Dona do Mal tenta repetir a fórmula de sucesso do primeiro filme sem deixar de lado o mantra de que toda sequência precisa ser maior. Aqui, isto acontece através do entorno da personagem-título, interessante mas sem justificar tamanho destaque. Sem a trama de A Bela Adormecida como base, falta a esta sequência alguma unidade narrativa que norteie não só os personagens mas a história como um todo, que aparenta atirar para muitos lados para tentar agradar ao público de alguma forma, seja ela qual for. Diante de tal proposta, este novo filme soa mais como uma sequência genérica produzida de olho nos personagens populares do que interessada em entregar uma história envolvente, que conduza a agora franquia a outros rumos. Uma pena, ainda mais diante de um filme tão enxuto e bem resolvido quanto é o Malévola original.

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