Arte de museu
por Lucas SalgadoMaestá é um altar composto e pintado pelo artista Duccio di Buoninsegna, em 1308. Hoje, encontra-se localizado no Museo dell'Opera Metropolitana del Duomo, na cidade de Siena, na Itália. Em sua parte traseira, o altar apresenta uma série de quatros que retratam toda vida de Cristo, de momentos como a Santa Ceia, julgamento, via crucis, crucificação e ressuscitação.
Tomando o altar como ponto de partida, o artista Andy Guérif decidiu dirigir uma encenação literal dos painéis presentes em Maestá. E por encenação literal, entende-se a exata reprodução das pinturas, só que representadas por atores.
Após abrir o filme com a crucificação, o diretor afasta o foco da pintura específica e apresenta todo o painel, com mais de 20 quatros na tela. A partir daí, vemos atores surgirem - muitas vezes simultaneamente - em inúmeros espaços na tela. É uma experiência artística interessante, que obriga o espectador a ficar atento e a buscar informações em diversos lugares.
Sabendo que possui em suas mãos uma obra experimental e de formato exaustivo, o cineasta faz a boa escolha de fazer um filme de curta duração. São apenas 60 minutos, que são o suficiente para vermos a reprodução de todas as pinturas de Duccio.
É uma experiência curiosa, que talvez funcione melhor como intervenção em um museu de arte contemporânea do que em um circuito comercial de cinema. Ainda assim, fará o espectador abrir sua mente para um modo diferente de analisar o enquadramento em cena.
Como obra de arte, se interessa mais com a encenação do que com elementos narrativos como roteiro e atuações. Os quadros aparecem tão pequenos em cena, que é impossível analisar o trabalho dos atores. A preocupação é apenas fazer eles ficarem parecidos com as pinturas originais.
Não é uma obra que fica na cabeça ou faça o espectador refletir profundamente, mas é algo diferente. Um tipo de cinema que não existe tradicionalmente. E isso sim já é um valor.
Filme visto durante a cobertura do 5º Olhar de Cinema de Curitiba, em junho de 2016.