A tristeza do Natal
por Francisco RussoÉ tradição em Hollywood: ano sim e no outro também, quando a temporada de inverno se aproxima lá vêm os filmes natalinos para embalar a vida dos cinéfilos. Se alguns viraram icônicos, como A Felicidade Não Se Compra e Esqueceram de Mim, a grande verdade é que a imensa maioria simplesmente explora os ícones em torno do Natal para faturar alguns trocados fáceis. O Natal dos Coopers é mais um destes casos, apesar de trazer algumas variações importantes em relação ao clássico filme natalino.
A principal delas é o fato deste ser um filme extremamente melancólico, o que até causa uma certa surpresa. Por mais que todos os personagens estejam se preparando para a grande ceia de Natal na casa dos patriarcas Sam e Charlotte (John Goodman e Diane Keaton, casal insosso), cada um deles passa por problemas pessoais que, uns mais e outros menos, minam seu ânimo em relação à data supostamente festiva. Tal proposta faz com que O Natal dos Coopers tenha uma forte questão conceitual embutida, com o roteirista Steven Rogers buscando paralelos entre a magia do Natal através de seus ícones e a falsidade por trás deles.
Tal iniciativa é, por si só, bastante interessante também por oferecer um contraponto aos clichês do gênero. Só que, por mais que seja bem intencionado, O Natal dos Coopers oferece um punhado de historietas mal desenvolvidas. A começar pela crise no casamento vivida pelos personagens de Diane Keaton e John Goodman, que prefere se ater a manter uma imagem falsa do que minimamente trabalhar os problemas existentes. A mesma superficialidade pode ser notada na subtrama de Marisa Tomei com Anthony Mackie, onde ambos apresentam questões sérias que, mais uma vez, são jogadas na tela sem qualquer aprofundamento.
Na verdade, a única historieta que oferece algo realmente interessante é a estrelada por Olivia Wilde e Jake Lacy, pelo tom irônico em relação à política americana. Por mais que sejam um tanto quanto estereotipadas, as diferenças entre republicanos e democratas rendem algumas boas piadas. Já as subtramas de Ed Helms e a da dupla Alan Arkin e Amanda Seyfried carecem de falta de tempo: seus personagens são meras caricaturas das dificuldades decorrentes da solidão e do desemprego, sem que haja tempo nem vontade para que tais assuntos sejam, mais uma vez, melhor explorados. Para completar, o conceito melancólico em torno dos personagens é abandonado com a proximidade cada vez maior do desfecho, que remete ao batido clima da união natalina. Como compensação, há uma esperta brincadeira envolvendo um personagem coadjuvante.
Por mais que o elenco como um todo esteja bastante apático, chama a atenção o desperdício de três talentos: June Squibb, indicada ao Oscar por Nebraska e aqui reduzida ao fácil e bobo papel da velhinha desmiolada; John Goodman, preso às caras e bocas de seu personagem; e Amanda Seyfried, que simplesmente repete a cara de tristinha ao longo de todo o filme. Dispensável.